Limites

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22.12.05

Mais uma vez tudo igual

Não dá para fugir e ser diferente, mesmo que a tentação seja forte. Dá muita vontade de seguir o instinto e procurar um caminho contrário com o único fim de dissonar. Tem horas em que ser diferente cansa e penso que ser igual talvez não seja tão ruim assim, que, talvez também, não denote falta de pensamento ou de criatividade. Reclinado a essa aceitação, vai lá o fim de mais um ano.

Descobri que não é nada fácil estar exposto, que ter meus erros descobertos e minhas decisões tornadas públicas trazem conseqüências para além de uma vida. Digo "além de uma vida" não para me referir a vidas passadas ou futuras, mas para falar da vida de mais de uma pessoa. Sim, tem vezes que as nossas escolhas envolvem gente demais, gente que não escolheu suportar determinadas situações e que, repentinamente, se vêem diante de uma surpresa, agradável ou não.

A dificuldade de enterrar suas novidades está justamente no aprendizado que é necessário a cada um de nós a fim de que não fiquemos presos na mesma tábua, inertes, alheios, despreparados e cada vez mais fracos. O dilema é grande: "segredar-se" ou "publicitar-se". Há quem prefira o silêncio de sua própria alma e existem aqueles que necessitam do barulho de opiniões externas. Não existe verdade, não existe razão, não existe maniqueísmo.

Preferimos dizer que viver hoje é mais difícil. Tudo é mais rápido, tudo é conhecido, tudo é permitido, os estímulos não param, a ameaça não pára, a estabilidade falta e somente o que é novo seduz.

Em toda essa volta, volto para perceber que pouco mudou em mais de 3 centenas de dias. Uns conhecimentos a mais, talvez um acúmulo de experiência, com certeza histórias novas e situações inesperadas. E repito, com certeza situações inesperadas. Inesperadas e bem vividas. Bem vividas e repetidas se necessário fosse. Talvez de uma maneira diferente, num tempo diferente, mas, quem sabe também? Depois de passado o dilema, é fácil decifrar a esfínge.

Não sei se das próximas vezes, diantes de algumas dúvidas, vou enfim acertar e fazer de um jeito que evite desgastes e siga os meus princípios, não sei se da próxima vez vai ser sensata a minha voz e minha consciência vencedora dos meus impulsos. Não que esse ano tenha sido de impulsos, mas de algumas decisões importantes que vieram contra alguns conceitos, algumas verdades. Digo que todas elas valeram a pena, mesmo as decisões mais difíceis e que magoaram algumas pessoas, envolveram outras e terminaram por, nestes últimos dias, me obrigando a precisar de tempo para pensar sozinho.

Não deixo arrependimentos, não deixo coisas por fazer ou outras por dizer. Não rasgo minha lei ou renego minhas palavras. Assumo cada um dos meus atos e se 2005 começasse em 9 dias, perseguiria cada um destes percalços que vieram, talvez com mais calma, talvez com mais paciência, talvez com mais cautela.

Chego a esse final olhando não para um novo começo, mas para a continuação desses dias que vêm se somando, um após outro, dias que têm conseguido me mostrar verdades diferentes, pessoas diferentes, pensamentos e compartilhamentos que nunca havia visto.

Por isso digo: "mais uma vez tudo igual"; porque continuo tentando aprender um pouco, tentando deixar de ser tão cru, tentendo ouvir mais do que falar, tentando me doar mais do que ser servido, tentando fazer mesmo sem ter certeza de receber, tentando, enfim, purificar aquilo que a minha natureza mostra mas que a sombra da cruz esconde, obra única da redenção por Cristo Jesus.