Limites

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18.8.09

Sobre hábitos, sobre caráter

Já acreditei que o caráter se conhece pelas atitudes; mais que nas atitudes, diz-se que o caráter pode ser visto nas reações, naqueles momentos imprevistos que exclamam nossos atos mais naturais, nossos pensamentos quase impronunciáveis e sempre bem guardados, nossa moral quase impura. Não mudei esse conceito, só não o trato mais como regra muito menos absoluta.

Permaneço concordando que as reações espontâneas são sinceras e ajudam a revelar a verdade de cada um. Assim como a surpresa inesperada geralmente produz em sorriso sincero, a indesejada dificilmente tem outro resultado que não o sorriso falso.

Hoje acredito e tento respeitar que muitos têm sim verdades diferentes das nossas crenças, dos nossos padrões, dos nossos ideais. Há muitos que sinceramente aceitam e desejam hábitos que não se encaixam na doutrina dos demais; não por isso eles estão errados. Ser maioria, pudico, politizado, heterossexual, cristão ou rico não torna ninguém mais predisposto ao acerto que outrem.

Bons cristãos, gente que enriqueceu licitamente, gente que concorda com a maioria, gente bem intencionada, todos eles e cada um deles pode derrapar feio e não será essa mancha que determinará o caráter publicado nos seus perfis.

Raros ou não, comuns ou atípicos, muitos fatos não deveriam modelar a visão que temos do caráter daqueles que são nossos iguais porque, em geral, quase todos acreditamos e esperamos da vida coisas bastante semelhantes. No mesmo grau, os erros dos 'diferentes' não deveriam ser vistos como desvio de conduta ou falta de caráter. A diferença, muitas vezes, não está no ato cometido mas no seu autor, se é um dos nossos ou um dos estranhos. A desigualdade, em quantos momentos, está apenas no momento em que os deslizes acontecem e permite um ser julgado, o outro julgador. Mas isso é temporário, a roda sempre gira.

Há gente estranha, com hábitos esquisitos e rotina bem questionável cheia de caráter, lotada de ideais firmes, inabaláveis; há gente comum, boa pinta, de boa família, gente bem aceita, também cheia de caráter e com crenças inarredáveis. Esses dois irão errar, mas apenas o esquisito será taxado de mau caráter. Definitivamente isso não parece justo.