Limites

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21.11.04

PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS

Honra e paz são duas palavras nas quais tenho pensado bastante. A primeira como princício, a segunda como objetivo. A primeira por essência e porque eu jamais teria a segunda sem ela.
Tenho visto muito coisa acontecer e o tempo passar bem depressa ao meu lado. Tenho percebido gente que corre atrás - sempre atrás sem conseguir alcançar -, numa busca incessante por não se sabe o quê. E infelizmente o resultado é quase sempre igual, com métodos quase sempre parecidos.

Definitivamente não quero, não pretendo ignorar aquilo que recebi de formação e que abracei por fé a fim de atingir objetivos que não me foram imputados sem indagar a concordância. Quero poder manifestar opiniões sinceras sem me preocupar com versões mal contadas. Quero respeitar os próximos e os que se aproximarem, e isso como uma das coisas mais importantes.
Porque não faz mesmo o menor sentido ser conhecido e rico pagando salário de servidão, explorando a necessidade, a ingenuidade, a boa vontade de tantos outros. Tantos outros mais pobres e menos importantes, mas talvez mais felizes e com certeza mais honrados.

Sei que vai ser importante chegar perto do fim e ter orgulho do caminho, das marcas e do lastro. Sei que vai ser importante poder contar a verdade e ter orgulho do que foi feito e de como foi feito. Com honra. Em paz.

No final não vai contar o que você construiu ou vai deixar, mas como você viveu.

19.9.04

O QUE VOCÊ É PARA MIM


Você me desconcerta e me rearruma.
Você me inquieta mas também me sossega.
Ocupa o meu pensamento e está ganhando o meu sentimento.
Você é o passado numa nova e bela forma.
Você foi e agora é. Mais do que foi, é. E será.
Destino vestido de passado e disfarçado de acaso. Essa é você.

17.8.04

Pedaços da Infância

De repente doeu meu peito porque senti saudade. Lembrei da época dos sonhos, daquela que não volta mais... Ah, a minha infância!

Uma foto antiga me fez lembrar do colégio. Taí uma palavra que a gente se desacostuma a falar: co-lé-gio. Tá difícil de segurar o choro bom das lembranças ótimas... Quantas reticências vão caber nesse texto? Com certeza menos do que eu carrego.

Uniforme, livro encapado pela mãe, camisa para dentro do short, jogo de bafo. Estojo novo, estojo com lupa, régua, borracha, clipes, lugar para caneta, lápis e um botão mágico que o abria em cima. Livro novo, caderno novo, tudo com cheiro de papelaria.

Janelas na boca, cada hora faltando um dente. Chifrinho em todas as fotos. Namorar? Só as meninas da mesma série. Afinal, se eu fosse da Quarta série, não poderia namorar uma “pirralha” da Terceira.

Guerra de giz e apelidos, muitos apelidos...

Futebol com bola de copo. Voltar do recreio mais sujo que porco. Descobrir que estar com as meninas é melhor que estar com os meninos. Descobrir as meninas como meninas.

Festas americanas...Ahhh....As festas americanas e as músicas lentas. A primeira namorada.

Subir em muro, árvore e pelas paredes, literalmente. Time de botão, coleção de bolinha de gude e álbum de figurinhas.

As primeiras viagens. Viagem não, excursão.

Meu uniforme, meus amigos, minhas namoradas, meus estojos, meus machucados, minha história. Quanta saudade. Quanta....

Ser jogador de futebol! Eu tinha certeza que seria...Esperar o ano 2000 quando eu seria um adulto, com filhos talvez...

O melhor de tudo: dormir sem perceber, ser carregado no colo, colocado na cama e me cobrirem com um beijo de boa noite, como meus pais fizeram tantas vezes.

Ê saudade...

26.7.04

ESPERA

Como saber quando começa e quando termina o amor? Sem essas respostas, podemos não sentir a única coisa que faria sentido na vida ou deixamos que a lembrança do triste final ofusque o que houve de melhor.

Chorar por felicidade; ter todo o pensamento ocupado por somente uma pessoa; dedicar todos os seus esforços para ser como ela sempre sonhou que seria o homem da vida dela; arder, arder de dor pela separação; não contar e não poupar lágrimas pelo mesmo motivo; envidar todos os esforços para que dê certo; achar e ter a certeza de que viveu somente para conhecê-la; amá-la.

Quantos detalhes - sim detalhes - te levam para longe da mulher que tinha uma mão com o molde ideal para estar junto da sua? Quantas mulheres cabem no seu abraço e sabem se encaixar no seu peito? Uma, ou talvez mais. Com certeza poucas. Você pode achar mãos e abraços, pode criar histórias e recordar afagos, pode encontrar um beijo quente e até mesmo cumplicidade, mas ninguém será como a mulher da sua vida. É preciso fazer tudo mas ainda será pouco porque o amor não está sujeito aos esforços, ele é por si, ele acontece. É preciso humildade para olhar para trás, voltar atrás, correr atrás; e olhando, voltando e correndo, não deixar passar o que só acontece uma vez. O resto são ilusões e quase-amor. Sim, sempre é preciso fazer, tudo.

Se eu tivesse direito a um pedido, tendo dele a garantia de atenção, não tenho dúvida do meu: saber quando acaba e quando termina o amor. Porque eu não quero chegar ao final dos dias supondo que amei e não sabia, ou que desamei e me iludi. Quero poder olhar para ‘quem falta em mim’ e reverenciar o fim da busca, ser tomado de sorriso, ofuscar o sol e enfim poder dizer: valeu a pena.

17.7.04

ASSOPRA E MORDE


Como elogiei um petista da última vez, chegou o momento de deixar a condescendência de lado e apontar o mais novo grande equívoco do Governo dos ‘trabalhadores’. Gostaria, entretanto, antes de fazê-lo, esclarecer que o reconhecimento que aqui fiz a Eduardo Suplicy não era por ser filiado ao partido governista, mas à sua figura pública, à sua atuação enquanto Senador e homem honrado. Apenas isso.

Uma notícia que hoje ganhou certo destaque nos órgãos de imprensa, comunicava a decisão do Governo em não só reajustar as aposentadorias, bem como retroagir ao ano de 1994 e apurar o crédito de cada segurado, pagando-o num prazo máximo de 8 anos. Entretanto, o complemento da informação nos leva a mais um descalabro que somente pode ser entendido como “jogo sujo”, como “empurrar a sujeira para baixo do tapete”, afinal quem pagará essa conta será o empresariado. A solução encontrada pela equipe ministerial foi simples: precisamos manter as metas firmadas com o FMI + queremos aumentar nosso prestígio para as eleições municipais = aumentar a contribuição previdenciária (cujo recolhimento é de responsabilidade do patrão e não do empregado).

O que pode parecer uma decisão inteligente face à falta de alternativas trará, contudo, complexos e penosos resultados futuros quando, aí sim, provavelmente não haverá saída para a encruzilhada na qual o País estará. Não quero aqui ser Profeta do Caos, mas pensemos juntos e me digam depois se não é mero ilusionismo o que se põe diante dos nossos olhos.

O maior problema do Brasil é o desemprego. Disso um ou outro discorda mas não chega a fazer traço em pesquisa. Outros ítens daí decorrem como por exemplo a violência e os baixos salários (se há poucas vagas e muito contingente, o empregador tem o arbítrio de baixar as remunerações, e, na falta de opções, o aceitará o empregado). A solução para o déficit da Previdência Social não está atrelado ao valor da prestação recolhida mensalmente, mas à quantidade de pessoas a ela filiadas. Assim, se não houver estímulo para o emprego formal (aquele com ‘carteira assinada’) onde as pessoas recolhem a contribuição previdenciária, o montante arrecadado jamais será suficiente para fechar a conta, aumentando o prejuízo, o que impede o aumento do salário mínimo e diminui o poder de compra, desaquecendo a produção, estabelecendo a recessão, aumentando o...........desemprego.

Continuemos: se um trabalhador informal não migrar para o trabalho formal, quando ele poderá aposentar-se? A resposta infelizmente é nunca. Se as pessoas passarem a demorar mais tempo para sair do mercado de trabalho, as suas vagas não estarão disponíveis para a mão-de-obra nascente, jogando os jovens ou até mesmo os experientes no percentual de desempregados. Temo dizer que a falência da Previdência Social é iminente. Com ela sofrem os trabalhadores urbanos e rurais, e extingue-se também a licença-maternindade, o auxílio-doença e o auxílio-desemprego. Todavia, em sentido contrário, o Governo onera ainda mais a formalidade, impinge ao empresário mais um encargo, estimulando-o a deixar de registrar seu funcionário a fim de manter o posto de trabalho aberto.

Pois é. Infelizmente, na campanha eleitoral TODOS os candidatos prometiam desonerar a produção, estimular o crescimento e ajudar os Estados com a DRU, fazer o País avançar em números e justiça social, mas agora, o nosso Presidente e sua equipe - mais preocupados com a reeleição da Marta Suplicy - quer posar de bom moço e justiceiro, esquecendo os compromissos assumidos com todos nós. Mas para eles não há com o que se preocupar, eles não perdem o emprego ou aposentadoria.

26.6.04

O LUGAR E O TEMPO DAS COISAS

Saudosismo é um mal que todo mundo sofre, inclusive eu. E tenho andado saudoso, especialmente hoje. Queria poder dizer, com toda a certeza, que o lugar das coisas passadas é no passado, mas infelizmente hoje a falta de certeza me impede.

É verdade que tenho sentido muita - muita falta mesmo - de um tempo que vivi. Não por coisas certas. Não é a falta de pessoas ou momentos específicos. Talvez seja insatisfação com o presente. Sim, tenho saudades, mas não quero ser saudoso. Não sei até onde alimentar esse mal pode me fazer bem. A saudade pode ser boa e grata, mas quando vira lamentação pelo que já não é mais, vira tortura e depressão.

Acho que minha vida nos últimos 10 anos renderia um bom livro, ela foi intensa involuntariamente. Recordar alguém, um tempo, um dia, até que me faz bem, traz um bom sorriso e dá vontade de trazer para o agora caminhos que se perderam. Mas é apenas um surto. Surto passa. Fica a certeza de que foi mas não é. Seria, não será. Alguns dias precisam ser passados para fazer minha história, senão não haveria presente.

Coisa estranha essa de saber que o lugar das coisas é no passado, que saudosismo é uma doença que todo mundo sofre, que eu construo meu futuro mas que só posso defini-lo com base num terreno que não conheço. E mais, que mesmo que pudesse fazer diferente, talvez meu passado não servisse para o meu futuro.

Se tudo isso pareceu estranho ou confuso para você, me desculpe. Foi assim porque está estranho e confuso para mim. Talvez você queira, ou quisesse, trazer um sentimento que ficou para trás, mas não dá. Desculpe, desculpe..........

14.6.04

CONSIDERAÇÕES, CURIOSIDADES E APRENDIZADO

aviso: esse é um desabafo meio longo


Esse blog sempre me desafia. Fico tentado a escrever, e, confesso, penso no que pode atrair alguém a ler minhas linhas e quem sabe elogiá-las...tudo em nome do ego. Mas isso não é regra. Sempre quis mesmo anotar algumas coisas que eu pensava e depois esquecia porque não tenho muito boa memória. Começou assim. Depois foram se multiplicando células cancerígenas que no princípio achava benigno. Elas criaram a caixa de comentários, contador de visitas e idéias mirabolantes sobre o template.

Nesse período que passei sem escrever - por total ausência de atividade cerebral -, me dediquei à leitura. Por várias vezes me deparei com questões políticas quase escritas. Querem exemplos? O avião do Lula ou as Harley Davidson da Polícia Federal comprados há pouco tempo; a rebelião de Benfica, direitos humanos dos presos e a divisão de carceragem por facção criminosa; a inércia do governo estadual do Rio. Mas nada disso era suficiente. Aguçava minha vontade, coçava minhas palmas mas não viravam palavras escritas ou pensamento continuado. Não viravam ideáis. Pensava em escrever mas ia fazer macarrão ou pintar a varanda.

Li e estou lendo Dostoiévski, escritor russo do século XIX, romancista. Seus livros têm me ajudado a recordar da linguagem antiga e das outras formas de conjugação verbal além, é claro, de exercitar minha imaginação tentando visualizar os personagens. Só que, por incrível que possa parecer a vós outros (que tal esse vós outros?), não foi ele que me tirou do lugar-parado. Foram sites. Foram blogs. Estranho? Sim. Estranho? Não.

A mesma curiosidade que moveu o país a acompanhar a Casa dos Artistas I e BBB I, que levou uma multidão em todo mundo a baixar o ICQ e ainda faz salas de bate-papo ficarem cheias, te traz aqui e me leva a outros sites. Curiosidade, curiosidade, curiosidade.

Que vontade estranha é essa que nos leva a querer participar da vida dos outros? Que vontade louca é essa que nos faz querer saber o que acontece na vida de alguém que não somos nós mesmos e, por muitas vezes, são absolutos desconhecidos com quem não possuímos a menor relação? Curiosidade. Mórbida curiosidade? Digo que não. Vivífica curiosidade!

Não sei porque mas tenho me emocionado com muita facilidade. Tá bom, acho que sei: essa primeira semana de junho foi difícil pra mim. Dia 02 seria aniversário do meu pai, dia 06 foi o dia que ele morreu, dia 07 o que foi sepultado...há dois anos atrás. Tudo me quebra, inclusive lembrar. Tenho quase chorado com questões nacionais distantes de mim, com os ridículos casos de família do programa do SBT, com qualquer coisa que não seja totalmente feliz. O que a curiosidade tem a ver com a minha atual fragilidade? Talvez haja relação. Como disse não foi Dostoiévski que atraiu mais minha atenção, foram alguns blogs. Por trás dessas páginas, no entanto, não estão jornalistas, não estão redatores, estão pessoas. Pessoas que se expõem em idéias e segredos. Pessoas que, inexplicavelmente, abrem suas vidas e suas dores para que anônimos distantes tomem dela conhecimento. E talvez a julguem...Tenho visto muitos sites de variados temas e diversas redações. Algumas parecem bem instruídas e maduras, outras ainda novas e sem muito a dizer. Mas caramba!, não importa se disseram ou não. Estiveram ali os autores do blog, que na vida são meros personagens, talvez apenas para dizer "hoje fui ao shopping", ou simplesmente: - Querido diário, hoje estou triste por isso não quero falar com você.

Não. Não importa mesmo o que foi escrito. Importa quem disse. Importa que eu estou participando da vida de alguém, lendo seus sentimentos, torcendo para que as dores sarem e virem apenas cicatrizes como se tudo fosse um capítulo de novela à espera do final feliz. Eu estou participando da vida de muita gente solitária que não me conhece, mas que, justamente por deixar esse vínculo aberto, me deixa compartilhar suas expectativas. Queria poder dizer pessoalmente para elas: você deixou de estar só. Curiosidade mórbida? Não. Curiosidade vivífica!

Estranha essa internet. Afasta as pessoas protegidas pela tela fria do monitor e distantes pelo fio do telefone, mas as aproxima em seus sulcos mais profundos de dores da alma, comuns em muitos homens e mulheres que de parecidos nada têm. Curioso mesmo.

12.6.04

BATALHA ÍNTIMA AO INIMIGO DESCONHECIDO

Sentimento inominado que leva meu sono,
inquieta o coração, perturba a consciência e atordoa a alma.
Não sei ao menos onde resides para poder te combater.
Há muito procuro tua morada a fim de resgatar meu prazer.
Tu que tens, diuturnamente, sem alarde, com força porém,
esvaziado a felicidade que tanto anelo e com desvelo construía.
Diz-me logo, quem és?

Não vês que és louco, ingrato?
Se em mim nasceste e de tua nascente roubas a vida, matas a ti mesmo pois comigo morrerás.
Deveras sabes o real motivo de tua missão?
Se o sabes bem e ainda assim persistes nessa peleja,
digo que teu desejo será frustrado, pois descobrirei teu abrigo, conhecerei tua fraqueza,
e, ao fim, me clamarás clemência.

15.4.04

UM QUASE-ROMANCE


“Seja a mudança que espera do mundo”. Uma frase, um conceito, uma verdade, um ensinamento. Afinal, o que era a tal frase dita por Gandhi? Apenas mais uma fonte de consulta para aqueles que esperam o momento propício para manifestar seu conhecimento e sabedoria? (ou mesmo que este instante não chegasse, sua citação não tardaria pois a adequação sempre é devidamente providenciada). A dúvida quanto ao enquadramento daquela expressão de Gandhi realmente o atormentava. Não era apenas uma questão de definição, não era um mero capricho. Era vital. Entender quem dizia e o que se dizia, o faria talvez reavaliar sua postura diante da vida. Havia quem dissesse que o drama do nosso personagem fosse como a rebeldia sem causa, uma ocupação para quem não tinha problemas a resolver. Diziam que se fosse maduro, vivido, experimentado, seria mais pragmático e menos teórico, ou filosofal, ou “antropo e coisa e tal". Ele, com constância, ouvia: “você precisa viver no mundo real, e aqui as coisas são diferentes. Não há tempo para os seus caprichos”.

A cada dia vencido, mais uma época passada, mais uma oportunidade de, quem sabe, começar a entender o mundo. “e se todos estiverem certos?” -pensava ele-. “e se não houver o que entender ou fazer? Devo apenas viver a minha vida e correr em busca dos meus objetivos? Mas quais são os meus objetivos?” Ele sentia nessa tese um gosto de desesperança, de menosprezo aos sentimentos, aos ideais, sentia medo em não fazer a parte que cabe a cada um.

Caminhando de volta para casa assistiu uma briga no trânsito. Socos e xingamentos por causa de uma bobagem. Os gritos e provocações que ouvira na reunião no dia anterior em seu trabalho também não saíam de sua lembrança. O mais estranho era chegar em casa e, ligando a televisão assistir notícias de um mundo que pede paz: na Rocinha, no Oriente Médio, no Haiti...

Não importava o que lhe repetiam e buscavam lhe imputar à mente. Na verdade, não importava mais nada. Que fosse apenas uma frase oportunista, que o tal de Gandhi fosse apenas um charlatão. Tomara que fosse uma verdade. Já não fazia diferença se era um provérbio dito por um “velho sábio a um aprendiz” nas histórias de Paulo Coelho ou um dos princípios dos livros de auto-ajuda. Afinal, a frase ecoava sozinha na sua cabeça diante da sua realidade. Só isso fazia sentido. Só.

19.3.04

PREDILETA E ÚNICA

Quantos mistérios escondem seus olhos escuros?
Ora em sorriso abertos, ora tão frios e distantes.
Tantas mudanças me deixam sem saber se você tem segredos que podem nos matar,
ou se é apenas medo que te faz se esconder na dúvida.

16.3.04

PORQUE SENDO FRACO É QUE SOU FORTE (E ESSA É MINHA FRAQUEZA)

Nunca fui trovador,
nunca fui “escrevedor de versos”,
nunca soube juntar letras e fazer poema.

Sempre fui apaixonado.
apaixonado pela briga,
pela oposição,
por tudo que é intenso,
que me faz perder o raciocínio e o argumento,
assim como a paixão.

Porque a paixão é assim,
quebra toda a lógica,
faz caso dos conceitos,
dificulta decisões.
Na verdade, impede qualquer decisão.
Passamos a ser movidos por impulso.

Perdendo a luta com a razão,
vencido pelo intenso instinto,
quero comemorar com você o sexto dia de cada mês.

Beijos.

12.3.04

APENAS UM ENSAIO

Ser julgado: coisa que incomoda todo mundo e a qual todos estamos sujeitos. Esse nosso espaço, por exemplo, estará sempre à merce da desaprovação e reprovação pública. É o ônus de expor idéias. Nem mesmo a perfeição nos isenta de julgamento, e como é a imperfeição que comanda nossos atos, geralmente ouviremos e sentiremos o gosto da voz contrária.

Considero existir uma diferença entre julgar e emitir opinião. Talvez eu possa tentar explicar, de forma resumida e não muito convincente, a diferença que existe entre essas duas formas de análise: se eu falo sobre uma roupa, um prédio, um quadro, não estou julgando mas emitindo a minha opinião. Estou dizendo se aquilo agradou ou não o meu conceito de estética, de aparência. Se falo, por outro lado, de comportamento, de valores íntimos, deve ser isso considerado julgamento.

Vejamos. O que é meu, íntimo, pessoal, intrínseco, só pertence a mim. Eu estou utilizando como parâmetro para a minha vida, para os meus sentimentos e não para os outros. Assim, ninguém tem direito de interferir nessas escolhas que faço porque não as participo a mais ninguém. Já, se me disponho a exteriorizar meus gostos e submetê-los ao crivo público, serei obrigado a colher elogios ou não. Mas aí serão meras opiniões.

Por fim e como tentativa inicial de fazer estas diferenças, posso não concordar com alguém que casa oito vezes. Essa será a minha opinião. Mas a partir do momento que me afasto da pessoa por causa desses oito casamentos, a estarei julgando.

Sei que ainda preciso trabalhar melhor essas definições, mas este é apenas um ensaio.

3.3.04

A MINHA INDIGNAÇÃO


Eu havia impresso um ritmo forte na minha vida. Queria mostrar o que era capaz de fazer. Buscava conhecimento antes do tempo, construí competência e criei aparência de competência. Tinha anseio de controlar tudo, inclusive a mim. Era premente me conhecer, prever minhas atitudes, analisar meu temperamento e moldar minha personalidade de forma que me pudesse ser útil. Eu estava a meu serviço. Mas fui parado bruscamente e desde então as descobertas têm me sido reveladas quando estou desarmado e sem esperar ou em busca delas.

Alguns questionamentos continuam latentes, não sei se em função da minha insistência em querer me torturar ou porque efetivamente são fatores que me incomodam e dos quais almejo uma descoberta sincera. Tenho começado a formar minha opinião em torno da honestidade das avaliações feitas à luz da razão. Talvez elas estejam impregnadas por muitos conceitos que foram criados desonestamente e nos passado, talvez não seja o que efetivamente pensaríamos. Sei que as decisões e conclusões construídas sob forte emoção nos parecem insensatas justamente pela falta de um estudo mais denso sobre o assunto. Podem não ser as mais equilibradas, mas são sem dúvida as mais honestas. E não “talvez”, mas por certo é isso que se faz escasso hoje: honestidade.

Preciso admitir, não por uma declaração político-social mas porque faz parte da minha essência, porque compõe o caráter que tentei durante tanto tempo desvendar, que a diferença racial absorve boa parte dos meus pensamentos e sentimentos, que isso me consome as emoções, pesa minha cabeça e me tensiona. Não consigo, definitivamente, suportar as idéias separatistas, de superioridade ou inferioridade. Não posso aceitar a prepotência de “nacionalistas” ou a “proteção” hoje comum de governos que, intervencionistas”, falseiam uma igualitarização das raças, quando só existe uma raça: humana.

Tentar promover, por exemplo, sistema de cotas para ingresso em universidades ou empregos públicos é não só reafirmar a podre história contada pelos colonizadores a respeitos dos índios – chamando-os de indolentes -, ou sobre os negros tratados como indignos ou ainda judeus, separatistas russos ou chechenos, curdos, palestinos, irlandeses britânicos ou não. Não importa a razão da diferença, a razão é fazer da diferença algo insuportável à convivência, é lançar mão dela para criar critérios de comparação e produzir teorias de superlatividade. Isso tudo é que corrompe. Jamais haverá diferença, intrínseca ou extrínseca, capaz de mudar a condição de todos os homens: o fato de terem sido criados pelo mesmo Deus.

Definitivamente, isso me causa repulsa, incomoda profundamente minha concepção de justiça, relacionamentos e, especialmente, de vida. A vida é curta demais para se sentir ódio. Enquanto deixarmos que nossas paixões desfaçam os laços que nos unem, perderemos tempo com discussões verborrágicas e tentativas insinceras de solucionar aquilo que não é culpa do sistema de distribuição de renda ou do histórico de formação política, social ou religiosa do País, mas que está dentro de cada um.

Queria que fossem mais do que palavras, mas palavras apenas são e assim vão continuar, aqui, pelo menos.

17.1.04

RENOVAR E CRESCER

Postado por Rodrigo

Enquanto ouvia hoje algumas músicas do Capital Inicial lembrei do longo tempo em que eles estiveram afastados da mídia. E acaba sendo curioso isso porque os caras têm talento, fazem parte dos remanescentes da década de 80, do início do 'Rock Brasil'. Juntos com os Paralamas, Legião, Titãs, Ira!, Hanoi Hanoi, tiveram a chance de serem para sempre lembrados como precurssores, assim como o foram Tom, Vinicius, João Gilberto, Gil, Caetano, Chico...

Pensando neles, lembrei também da Zélia Duncan, figura deixada de lado enquanto Cássia Eller era viva. As semelhanças entre as cantoras, até no timbre vocal, levou os comandantes da programação de rádio e TV a concluir que não havia lugar para as duas. Uma pena. Mas agora ela está de volta. "Há espaço para ela". Era preciso substituir e continuar faturando.

São dois exemplos diferentes mas de quem enfrentou a mesma dificuldade. Pessoas talentosas que conheceram a fama e o reconhecimento, conviverem com o ostracismo. Não digo que a causa disso seja a que vou apontar, mas comecei a pensar em uma hipótese para aqueles que são talentosos em sua profissão, que gozam de prestígio, que tiveram na boca a ducílima sensação de ser aplaudido e elogiado. Estou falando da falta de renovação.

O Capital reapareceu no Rock in Rio III em 2001. As mesmas músicas lançadas há cerca de 15 anos voltaram a animar que as ouvia, e o grupo aproveitou a oportunidade para se restabelecer, recriando e lançando repertório novo. Talvez tivessem limitado-se para apenas faturar um pouco mais com o trabalho de mais de uma década, veríamos uma história bastante parecida com a da Blitz, que mesmo depois de tantas chances não voltou e não voltará a ter o sucesso de outrora.

Zélia Duncan da mesma maneira soube aproveitar a oportunidade dada pelos executivos mórbidos e está aí.

Saber aproveitar as oportunidades é fundamental, mas também é difícil. Exige coragem e inteligência. No entanto, tão importante quanto, é ter auto-crítica e passar pela difícil experiência de se renovar; reciclar suas idéias, seus fundamentos, seus dogmas. Conseguir dar uma nova arrumação no seu modo de falar, escrever, comportar, sentir e reagir pode produzir uma sensação de um novo começo, de que todas as oportunidades voltaram e o mundo te espera para ser conhecido. Apesar do árduo começo, que passa por reconhecer que você parou no tempo e não tem mais o brilhantismo de antes, o resultado final é um dos que mais vale a pena.

É preciso renovar a vida para continuar a crescer com força, e mais do que apenas viver, aproveitar a vida.