Não é tão difícil buscar na lembrança os tempos nos quais o Brasil era muito mais seguro, mais lúdico, mas também de uma realidade que hoje nos parece tão distante e inacreditável. A geração que hoje tem 20 anos não acompanhou as eleições de 89 ou a campanha pelas Diretas em 84, não ficou na ‘fila do leite’ e na ‘fila da carne’, não conheceu as Fiscais do Sarney e só viu o Jô Soares como entrevistador, perdendo a chance de vê-lo ao lado de Paulo Silvino como o Capitão Gay. (Bem, eles também só tiveram notícia da Leila Lopes como atriz pornô e não como a professorinha da novela Renascer…)
Antes de Collor assumir a Presidência em 15 de março de 1990, o país vinha de uma grande luta pela redemocratização que uniu as principais forças políticas nacionais (Ulisses, Tancredo, Quércia, Franco Montoro, Pedro Simon, Lula, Brizola, Covas, FHC, ACM, Miguel Arraes, Roberto Freire) e artistas em torno de um único ideal: a volta das eleições diretas. A falta de prática política afastara a população dos governantes que desde a época do golpe militar eram eleitos indiretamente ou indicados.
Além da falta de legitimidade dos governantes, a crise econômica ditava os humores do povo que, como eu ainda pequeno, levava seus bancos para a fila da padaria e do açougue para comprar produtos que eram racionados pela baixa produção: leite e carne. O Brasil que hoje tem no Centro-Oeste um dos maiores rebanhos do mundo, há 25 anos tinha cota de leite e carne.
Nosso parque industrial ainda era resquício de meados do século XX quando haviam sido criadas a CSN (40), Petrobras (53), Furnas – p.ex. – (57), o Plano de Metas (governo JK) e do investimento em siderurgia, energia e petroquímica durante o período do “milagre econômico brasileiro” (68 a 73). Com a primeira crise do petróleo em 74 e a necessidade de sua importação, a balança comercial nacional virou em alto déficit e caminhamos lentamente para a recessão.
A prosperidade não durou e a inflação de demanda tornou-se inevitável. Apesar da riqueza gerada, como a indústria não dava vazão à capacidade aquisitiva de parte da população, os produtos manufaturados começaram a escalonar seus preços e alimentou o que, já de volta aos anos 80, convencionaram chamar o Dragão da Inflação.
Voltando ao início do texto, no ano anterior a Collor assumir a Presidência a inflação oficial registrada foi de 1.764%. Esse contexto inflacionário fora de controle, de mudanças de moeda, de desequilíbrio da balança comercial, de desequipamento do parque industrial, de dívida pública elevada (e desconhecida), além da produção legislativa nos últimos 20 anos pautará esse curto levantamento da situação econômica e política que vivemos às vésperas de mais uma eleição.
Limites
29.7.10
18.7.10
O Meu "Comer, Rezar, Amar"
Um dia decidi parar e ler minha história. Li e reli, revisei, revirei. Eu estava disposto a recomeçar.
Troquei de cor, de cabelo e de horários. Deixei o suor levar as preocupações e o sal lavar as toxinas que ainda não tinham sido processadas. Vi que precisava renovar.
Uma das coisas que aprendi foi a conhecer os temperos e como eles podem, juntos, criar experiências surpreendentes. Outra é que o tempo de cozimento precisa ser bastante cuidado: nem cru nem escozicado. Depois disso, tratar os sorobôs-de-ontêm como matéria-prima virou diversão. E tudo podia se fazer novo...
Talvez a cozinha tenha sido o início desse recomeço porque te leva a pensar nos cuidados, a escolher a receita, a selecionar os ingredientes, a limpar, preparar, cozer/fritar/assar seja-lá-o-que-for e sempre olhar para não desandar. Só que antes disso tudo você pensa em alguém porque poucos são os que cozinham para si. Geralmente cozinhamos pensando em alguém ou cozinhamos para alguém, e nessa dedicação a nossa vida se abre...
Também voltei a rezar. Demorou muito, muito mais do que um dia eu poderia imaginar. É que o tempo é sutil, e, discretíssimo, chega todos os dias com uma cara normal, banal e comum mas quando se vai deixa algumas histórias que não pareciam ter sido escritas para você. Elas não pareciam suas e provavelmente estavam na lista daquelas que você sempre rejeitara. Fato: o tempo veio e sussurrou alguns casos que ficaram listados na minha ficha corrida.
Enquanto o vento soprava eu não lembrei de rezar e não senti peso ou culpa. Não que as minhas convicções tivessem mudado porque, fosse essa a estratégia do tempo, seria óbvia e mais fácil de ser resistida. Eu me distraí com justificativas. Enquanto me empenhava em desejar lugares mais altos, alguns cansaços ficaram acumulados e justamente nessas frustrações eu depositei a razão da minha distração.
Não foi nada fácil durante esses anos descortinar cada paranóia, cada medo, cada erro, cada fracasso, não foi fácil resistir muitas vezes ao que claramente destoava da fé que ainda carregava. Mas o que conta não são as vezes que você consegue resistir mas sim aquelas em que não. São essas que vão te deixar marcas e te levar cada dia mais longe para o dia do recomeço.
Dentro da lista de erros imperdoáveis, ficou claro que o amor irresponsável é o mais cruel deles. Irresponsável, aqui, não quer dizer lascivo. Falo da responsabilidade que assumimos no dia em que nos dispomos a conquistar alguém e despertar nela o mesmo sentimento que imaginamos começar a sentir. Mas como relações são feitas de muitos desencontros e alguns encontros, saber lidar com o amor a destempo definitivamente não é tão simples como gostaríamos.
Aprender a amar é bastante diferente de aprender a se relacionar porque, se até mesmo o amor pode ser mal entendido, mal interpretado ou desprezado, quiçá um relacionamento. Como o Apóstolo escreveu, o amor não se queixa, não é egoísta, tudo espera, tudo suporta, tudo crê. O amor é além de rótulos, de anéis, de títulos ou alcunhas. O amor vai existir antes de tudo e permanecerá quando os atuais virarem 'ex-qualquer coisa'. Porque é preciso amar as pessoas e cuidar que elas não se machuquem por sua causa. É preciso cuidar das pessoas.
Infelizmente você carregará alguns fardos, alguns dardos, algumas acusações justas - outras injustas - de amores irresponsáveis e também de responsáveis. Mas que se cuide das feridas dos outros antes das suas, que se evitem as feridas na medida do possível até o limite do impossível, que se abstenha de prosseguir quando vir que os infortúnios serão mais presentes que os sorrisos. Porque é preciso amor para começar, amor pra continuar e amor pra recomeçar, mas também é preciso amor para terminar.
Nesse caminho descobri que sempre há um ponto de retorno. Essa é a expressão que tenho carregado comigo: ponto de retorno. Sempre tem o dia do convite, sempre tem o dia do olhar, do falar, do concordar, de deduzir, de seduzir, e sempre tem um ponto em que podemos pensar, pensar, pensar e decidir se iremos continuar. Depois do ponto de retorno essa decisão sobre continuar fica muito mais difícil e dolorosa, mesmo que haja amor.
Comer, rezar e amar estão ligados a prazeres, instintos, a centelhas divinas depositadas em nossas almas. Como tudo que Deus faz, há liberdade de escolha para o homem e podemos, ainda que a contragosto, transformar o alimento em glutonia, a oração em heresia ou idolatria, e o amor em lassidão. Tudo depende de motivo e de foco, do porquê você quer fazer e o que você quer alcançar. Talvez essas sejam as perguntas essenciais na vida...
O que pode parecer paradoxal é que nesses meses olhando pra dentro de mim aprendi a enxergar mais os outros. A surpresa é que quanto mais você cuida de si menos razão você encontra para cuidar de aparências. E quanto mais longe você consegue ficar da vaidade, mais fácil se torna encontrar a essência de todos os prazeres.
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