Limites

Limites

15.1.11




Sonhos que surgem reais.

Sonhos que aparecem de manhã (ou à tarde - mas ainda a tempo).

Sonhos que falam língua de sonho. E que têm fala doce.

Sonhos que duram um dia, uma conversa e mais um dia debaixo da árvore.

Sonhos que viram saudade e deixam marca de sol. Sonhos.

2.1.11

Fruto e semente


Conheço muita gente e gosto de falar com muitas delas. Em compensação, a outras, sem pudor, prefiro ignorar.

Nessa lista, da forma como vejo, enxergo gente dura, umas arrogantes, outras fracas, influenciáveis, exibicionistas, passivas, corretas, dúbias, voláteis, teimosas, santas e santarronas.

Verdade seja dita, não importa tanto como as vejo mas sim como elas de fato são. Daí a pergunta que fica: elas são assim ou apenas acreditam ser?

O ano começa e os votos de sorte se multiplicam. Todos querem felicidade e desejam sinceramente um ano pleno. Enquanto uns esperam um ano bom como aquele que passou, outros não querem que ele sequer tenha o mesmo cheiro; enquanto alguns vivem um momento de paz e esperam seguir o rumo que encontraram, tantos outros ardem por algo que lhes traga novidade.

Por onde começar? O que não funcionou? Mudar para onde? Fazer a pergunta certa é só o primeiro mas fundamental passo para que os dias seguintes não sejam piores do que aqueles que acabaram de se despedir.

Quando alguma coisa não funciona, quando alguém reclama ou nós mesmos nos frustramos, escolhemos um um novo alvo, bolamos um novo projeto, procuramos novas pessoas, tentamos mudar até boa parte do nosso comportamento. E deixamos tudo para trás, até aquilo que não era ruim. Tendemos sempre, nos recomeços, a abandonar toda a experiência que consideramos não ter dado certo sem perceber que mesmo ali havia coisa a ser aproveitada. Isso é um problema.

Recomeçar - isso não é novidade - fica mais difícil com o passar dos anos para a maior parte das pessoas. Os hábitos, mais sólidos, viram teimosia e surgem como desculpa para não encarar o desgaste das novas tentativas. Se considerarmos o erro como experiência e que quanto mais tempo de vida temos, mais experiência armazenamos, concluiremos que vivemos errando. Essa é a interpretação mais lógica e também mais dura (além de distorcida). Pensar assim ajuda a criar cada vez mais resistência.

Viver mais, começar mais; viver mais, continuar mais. A vida tem um pouco dos dois. Quando desejamos um ano novo, quando fazemos promessas ao cosmo de que "daqui pra frente tudo vai ser diferente", quando prometemos aos nossos amores que a partir daquele dia a vida mudará, só pensamos em zerar a conta, em esquecer a vida acumulada e em levantar novas pilastras. Criamos a ilusão de que tudo até então não passava de uma 'perna seca' que precisa ser amputada (ou implodida).

Porém - ah, porém - acabamos tendo mais de continuidade do que de mudança. Ainda que queiramos produndamente alcançar nossos novos sonhos, ser fiéis às nossas promessas e andar de queixo erguido depois do dever cumprido, não identificamos se a pessoa que queremos ser é a semente de uma nova vida ou se é o fruto de quem nós éramos. Sim, somos ambos.

Plantamos, seivamos, e, por fim, damos frutos que germinarão novamente. E qual deles somos: a árvore ou a semente?

Voltando ao começo da conversa, nós somos aquilo que dizem de nós? Será que nós já tivemos oportunidade de sermos exatamente do jeito que seríamos se não nos tivessem cobrado tanto, se não nos tivessem incentivado tanto? Será que trabalharíamos tanto ou tão pouco se nossas experiências familiares e sociais tivessem sido diferentes? Será que seríamos tão alegres ou azedos se as nossas vidas tivessem sofrido (ou deixado de sofrer) alguns momentos-chave?

E se você tivesse tempo suficiente para se afastar de tudo que te envolve, ao final de um ano seria a mesma pessoa que acredita ser? Quem é santo, ou sério, ou fraco, ou responsável, ou irritante? Quais foram os papéis que aceitamos viver sem ter tempo de descobrir (ou conhecer) quem existe dentro de nós?

No dia que nos conhecermos, será que quereremos mudar? Ou será que continuaremos a achar que somos um projeto pronto?

Seja como for, não podemos deixar de ter em mente que produziremos nossos próprios frutos e que tudo começará de novo curiosamente a partir daí, ou seja, daquilo que já era.