Numa conferência, num simpósio ou em qualquer palestra, ao final deve-se aplaudir. Mas aplaudir o quê? Se o conteúdo tiver sido raso, a exposição confusa e cansativa? Pouco importa, haverá aplausos. E tal fato passa longe de regras de etiqueta. A platéia faz porque é assim. Esse exemplo foi dado pelo entrevistado de Antônio Abujamra ao criticar a falta de imaginação, coragem e sede pelo novo que acomete o jornalismo nacional e programas televisivos em geral. As fórmulas são exaustivamente repetidas. Vêm do exterior e logo se alastram pela grade, tomando conta de todos os meios de comunicação. Os telejornais e “reality shows” podem representar com clareza o sintoma apresentado naquela entrevista.
Ouvindo tudo o que se dizia, sem muito esforço, fui obrigado a concordar. Na verdade, concordei imediatamente.
Não acredito que seja inquietação exclusiva minha. É incrível ( “não dá para acreditar”) a pobreza que entranhou a sociedade. A dificuldade de tentar diagnosticar sua causa me impede de arriscar palpites. Onde e quando tudo começou talvez alguns sociólogos, antropólogos, filósofos e afins consigam nos ajudar a descobrir, não eu.
É importante esclarecer que não está sendo abordada aqui a massificação do consumo, apesar de, talvez, os "ólogos", um dia, digam que isso faz parte daquilo. O problema não é a universalidade da calça Lee, da Coca-cola, celulares, tamagoshis, ou qualquer outra febre publicitária que assole o mundo ocidental (e oriental também). O problema é a falta de questionamento. Por que as pessoas aceitam, sem reflexão, toda postura social que lhes é imposta? Por que as pessoas simplesmente aceitam a opinião pública como a sua própria opinião, se a tal opinião só é pública porque é a opinião de alguns que a tornaram pública, mas não nasceu do público?
Boa parte da alienação e preguiça intelectual vem exatamente de quem se espera a diferença. Dos seres dotados e reconhecidos em seus nichos sociais como “pensadores”, intelectuais. O curioso é que também o cult é formatado. Para que você seja reconhecido como um cara inteligente, pensante, formador de opinião, inconformado com o caos social em que vivemos, é preciso:
1- odiar FHC e seu governo;
2- apoiar incondicionalmente Lula e suas idéias, bem como suas escolhas (Benedita da Silva como ministra!!!!), mesmo que isso signifique antagonizar os ideais pretérito-recentes, afinal ele é de esquerda;
3- ser de esquerda;
4- venerar Chico Buarque;
5- aplaudir os pronunciamentos do Caetano Veloso;
6- repetir à exaustão os lemas de Betinho;
7- gostar de cinema europeu;
8- considerar o cinema norte-americano como “não-arte”.
Não quero tratar se essas afirmações têm mérito ou não, porque reconheço qualidade em muitas delas. O problema está no absolutismo dessa cartilha. Existem normas cult. É cult agora gostar de forró. Não importa se antes o mesmo cidadão, inteligente como sempre foi, achava uma “sub-cultura”. Agora ele tem que gostar, ou no mínimo aceitar como legítima manifestação cultural nordestina que merece o seu espaço, etc, etc, etc.
Sim tudo isso é triste e transcende direitismos ou esquerdismos, socialismos ou capitalismos, pobreza ou riqueza, inteligência ou burrice, boa formação ou sua falta. É sintomático. Está enxertado no âmago da maioria de nós.
Talvez consigamos começar a reverter essas irritantes obrigações e consequente condição de "ser não-pensante" quando tivermos coragem de assumir nossa personalidade e expusermos nossas idéias. Cada um de nós.
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