A MINHA INDIGNAÇÃO
Eu havia impresso um ritmo forte na minha vida. Queria mostrar o que era capaz de fazer. Buscava conhecimento antes do tempo, construí competência e criei aparência de competência. Tinha anseio de controlar tudo, inclusive a mim. Era premente me conhecer, prever minhas atitudes, analisar meu temperamento e moldar minha personalidade de forma que me pudesse ser útil. Eu estava a meu serviço. Mas fui parado bruscamente e desde então as descobertas têm me sido reveladas quando estou desarmado e sem esperar ou em busca delas.
Alguns questionamentos continuam latentes, não sei se em função da minha insistência em querer me torturar ou porque efetivamente são fatores que me incomodam e dos quais almejo uma descoberta sincera. Tenho começado a formar minha opinião em torno da honestidade das avaliações feitas à luz da razão. Talvez elas estejam impregnadas por muitos conceitos que foram criados desonestamente e nos passado, talvez não seja o que efetivamente pensaríamos. Sei que as decisões e conclusões construídas sob forte emoção nos parecem insensatas justamente pela falta de um estudo mais denso sobre o assunto. Podem não ser as mais equilibradas, mas são sem dúvida as mais honestas. E não “talvez”, mas
por certo é isso que se faz escasso hoje: honestidade.
Preciso admitir, não por uma declaração político-social mas porque faz parte da minha essência, porque compõe o caráter que tentei durante tanto tempo desvendar, que a diferença racial absorve boa parte dos meus pensamentos e sentimentos, que isso me consome as emoções, pesa minha cabeça e me tensiona. Não consigo, definitivamente, suportar as idéias separatistas, de superioridade ou inferioridade. Não posso aceitar a prepotência de “nacionalistas” ou a “proteção” hoje comum de governos que, intervencionistas”, falseiam uma igualitarização das raças, quando só existe uma raça: humana.
Tentar promover, por exemplo, sistema de cotas para ingresso em universidades ou empregos públicos é não só reafirmar a podre história contada pelos colonizadores a respeitos dos índios – chamando-os de indolentes -, ou sobre os negros tratados como indignos ou ainda judeus, separatistas russos ou chechenos, curdos, palestinos, irlandeses britânicos ou não. Não importa a razão da diferença, a razão é fazer da diferença algo insuportável à convivência, é lançar mão dela para criar critérios de comparação e produzir teorias de superlatividade. Isso tudo é que corrompe. Jamais haverá diferença, intrínseca ou extrínseca, capaz de mudar a condição de todos os homens: o fato de terem sido criados pelo mesmo Deus.
Definitivamente, isso me causa repulsa, incomoda profundamente minha concepção de justiça, relacionamentos e, especialmente, de vida. A vida é curta demais para se sentir ódio. Enquanto deixarmos que nossas paixões desfaçam os laços que nos unem, perderemos tempo com discussões verborrágicas e tentativas insinceras de solucionar aquilo que não é culpa do sistema de distribuição de renda ou do histórico de formação política, social ou religiosa do País, mas que está dentro de cada um.
Queria que fossem mais do que palavras, mas palavras apenas são e assim vão continuar, aqui, pelo menos.