Não somos burgueses sem religião. Ao contrário disso, talvez hoje vivamos num país mais religioso que nunca. O catolicismo herdado de geração em geração e pouco praticado transformou-se em: catolicismo (tradicionais e carismáticos) + evangélicos + espíritas + qualquer igreja que se funde por aí. A religião é um fenômeno social que não foge da pauta sequer da disputa presidencial. De toda forma, ainda que essa geração busque respostas no espiritualismo, permanece perdida como nunca, continua tentando sobreviver aos novos desafios que lhe foram impostos. Nós vivemos uma vida sem manual de instruções.
Nossa geração é uniformizada mas permite-se agregar a todas as novas tribos que emergem, experimenta toda sorte de novidade, reinventa-se ao fim de cada ciclo e descarta o que já foi usado. Recomeça. Em parte é ótimo que tenhamos a mente aberta, que saiamos ao encontro de novos caminhos. Por outro lado, não chegará uma hora que cansaremos de correr, de mudar de roupa, de hábitos, de religião....de princípios!?!?! (princípios, por onde eles andam?) Não chegará uma hora em que precisaremos deixar de descartar tudo e investir na reconstrução das instituições?
Desafortunadamente estamos desbravando caminhos que serão trilhados pelos nossos filhos. Nós começamos a reinventar o mundo que nossos pais deixaram para nós. Eles, sem culpa, não têm respostas para nos dar; a culpa é nossa que virou tudo de pernas pro ar. Eles foram filhos da estabilidade, da falta de mobilidade social, eles viveram o "milagre econômico". Enquanto a classe média brasileira surgiu com os nossos pais, mingua conosco que, a nosso turno, produzimos mais ricos do que nunca.
Mas essa riqueza que cresce nos leva para onde? Que tipo de pessoas temos nos tornado em nome da geração do ouro, das cifras, de novos mercados, de emergência, de bilhões a mais na balança comercial, da internacionalização da nossa marca? Tenho grande preocupação ao pensar nisso.
Temos cedido um tempo precioso das nossas vidas em nome de espaço no mercado global. Somos estressados, impacientes e vivemos em cidades caóticas com trânsitos quase imóveis. Trabalhamos quase tanto quanto no período da revolução industrial, só que agora com férias e descanso semanal. Todavia, se não morremos pelo pó do carvão, morremos do coração, de infartos e derrames provocados pelo estresse. Cada ano que passa temos mais reconhecimento internacional mas ficamos menos em casa. Ao final de cada mês temos metas a superar, ao final de cada dia temos relatórios a entregar, tarefas a cumprir não importa o tanto de horas extras que isso demande.
Nós não temos estabilidade, não somos mais uma nação preponderantemente de funcionários públicos na qual nossos pais viveram com toda a tranquilidade que isso trazia. Quanta mudança! Eles, "os véios" trabalhavam como engraxates, começavam como contínuos numa empresa e, após décadas, aposentavam-se nessa mesma companhia como diretores ou gerentes. Nós? Coitados! Mudamos de emprego a cada ano ou triênio, somos atraídos por ofertas melhores ou traídos por ofertas menores feitas a profissionais que se disponham a trabalhar em nosso lugar por menos que ganhamos.
Claro, em tudo há dois lados: se por um prisma a estabilidade fazia bem ao convívio da família em virtude de haver menos preocupações e incertezas, por outro, bem, vocês sabem....estamos crescendo, blá blá blá, blá blá blá, blá blá blá.
Se continuarmos assim, seremos sim a "geração do futuro" profetizada pela Legião e fundaremos um novo país. Mas e os nossos filhos, herdarão o que de nós? Melhor dizendo, eles saberão o que é a relação de "Pais e Filhos" ("quero colo, vou fugir de casaa/ posso dormir aqui,com você") que nossos pais nos ensinaram? Estaremos em casa para lhes dizer isso ou estaremos nos escritórios tentando salvar os empregos que pagam nossas contas mas que duram cada vez menos?
Não nos deram essa resposta e não disseram o que precisamos fazer. Mas não culpemos nossos pais. Essa é uma luta que precisaremos vencer sozinhos a fim de que nossos filhos herdem mais do que apenas dinheiro e status. Só assim construiremos um futuro que valerá a pena ser vivido. E tomara que nossos filhos não nos culpem por isso.