Limites

Limites

14.6.11

Na montanha

Bem-aventurados os que erram e aprendem.

Bem-aventurados os que não são inflexíveis.

Bem-aventurados os que escutam e os que sabem falar.

Bem-aventurados os que duvidam e os que acreditam.

Bem-aventurados os que refletem.

Bem-aventurados os que não julgam e dão novas chances.

Bem-aventurados os que compartilham.

25.3.11

Citação


Com o devido crédito à Revista Vida Simples e a Eugenio Mussak, edição 103, março 2011



"Sagrada é a vida que vale a pena, que não compactua com o destrutivo, que não se contenta com o mínimo, que busca o excelente, que distribui compaixão, afeto livre, amor verdadeiro. Lugar sagrado é o próprio corpo, que merece cuidado; é a mente, que precisa de conhecimento; é a emoção, que precisa do belo. Lugar sagrado é o espaço ao nosso redor, que conquistamos com nossa própria energia, e que será tão maior quanto for nossa intensidade de viver."

Subscrevo sem alterar uma vírgula. Quando crescer, quero ser Eugenio Mussak.

17.3.11

(Ponto de) Inflexão



Também poderia chamar esse conjunto de linhas de "Curvatura" por dar tanto a expressão do peso que verga quanto da mudança de rota. Preferi a "Inflexão" porque, apesar de significar o mesmo, começa com as mesmas letras de "introspecção" e termina com as de "reflexão", o que de fato pretendo fazer": refletir para dentro.

À medida que a vida passa, experiências sucedem-se e fatos suicidam-se à minha frente. Sempre me disseram que quanto mais somos experimentados, maior a sabedoria e sempre um dia terminamos por entender dores e amores, a diagnosticar más intenções, a superar negações e frustrações, a sermos cada dia melhores, mais compreensivos e compassivos.

Por enquanto tenho a leve impressão de que a coisa funciona um pouco diferente. Quais não são os "a40tados" ou mais que, sólidos em suas carreiras e com as famílias definidas [definidas muitas vezes tragicamente por casamentos dilacerados - desfeitos precocemente ou carregados ao peso de correntes presas ao pescoço], não têm a mínima ideia de quanto tempo já caminharam perdidos no meio da mata e o quanto esse enclausuramento lhes custou de vida plena. Quantos e tantos, já na "idade do aguenta", não conseguem discernir marcas de cicatrizes mas gabam-se do peso dos anos, dos cabelos já apagados e das rugas de infelicidade que carregam como desculpa para seus rompantes de desamor.

Ainda não haviam me dito que a vida não é linear, no máximo cochicharam que ela traz surpresas. Sempre ouvi que o acúmulo de anos, de relacionamentos e de histórias era um estoque inexorável de conhecimento, uma verdadeira preparação que o ciclo natural nos impunha para instruirmos e conduzirmos nossas relações em suas complexidades singulares e evolutivas.

Esqueceram-se de me segredar que todo esse cansativo condicionamento mental e emocional, muitas vezes de nada serve e para nada presta senão para fazer-nos penitenciarmo-nos por achar que permanecemos imensamente despreparados e incompetentes para lidar com as nossas próprias limitações, para criarmos laços maduros, densos e sinceros. Esqueceram-se de me dizer que enquanto nos condicionamos até fisicamente para os anos da maturidade, ficamos absortos em engano porque não há quem possa preparar-se para o imprevisto.

"Sim, nós podemos!" aprender a conhecer nossas reações, nossas deficiências e dirigir nossas ações a fim de que elas moldem o nosso caráter. "Sim, nós podemos!" escolher a forma como nos portaremos ainda que não nos seja dado escolher a estrada que trilharemos. Sim, nós DEVEMOS separar tempo para o autoconhecimento e intensa, constante, interminável e árdua tarefa de sermos absolutamente sinceros conosco, assumindo todos os nossos defeitos, desvios de caráter, todos os desejos impronunciáveis e pensamentos despojados de qualquer virtude que vivem ao redor dos nossos ideiais antigos que, mesmo belos, foram sufocados pelo homem ingrato que acabamos nos tornando.

Se tornamo-nos ingratos é porque deixamos orgulho, vaidade e ira apossarem-se dos nossos punhos para serem os vigadores da nossa fama. Mas volto a dizer o que não me disseram: nós podemos. Moldar o caráter é sim uma tarefa diária e de uma vigilância constante. Ainda que o seu desejo mais natural, que o seu instinto mais profundo seja o de querer bem, o de ser estritamente ético e inabalável, isso não é definitivo. Ainda que a bondade seja seu sobrenome, ainda que o mal pronunciar jamais tenha feito parte do seu vocabulário até hoje, tenho certeza ao dizer que moldar o caráter é sim uma tarefa diária e inacabada.

Nossas boas intenções sempre serão tentadas, nossa ética sempre será colocada à prova, nossa vaidade sempre será instigada até o dia em que uma fresta permita que a despressurização dê início à nossa queda.

Meus amigos, o caráter é MUTÁVEL e isso é bom. Bom para que saibamos que nenhum bem existente em nós procede de nós mesmos, bom para que saibamos que somos propensos a querer o mal, a cobiçar a riqueza alheia e que, mesmo diante dos deslizes que essas deficiências podem carregar, ainda temos chance de recomeçar e termos os nossos caráteres remodelados para buscar uma reação diferente quando a vida nos aprontar outra de suas imprevisões.

Até hoje a minha história de vida não me permitiu ser equilibrado, coerente, manso ou sábio para aconselhar e confortar os conhecidos a quem amo e os desconhecidos que posso vir a amar. Sei apenas que tenho precisado, ou melhor, tenho tido a mais extrema NECESSIDADE de conhecer-me profundamente, em ter meus instintos perscrutados, meus sonhos verdadeiros descortinados para poder assumir-me diante de mim e dos outros sem enganos, sem estratégias de conquista, sem aparência de promessas que não poderei cumprir.

Definitivamente, ou pelo menos por hoje, não quero experiência nem conselhos a dar, quero apenas e como nunca conhecer os segredos do meu coração, os espasmos da minha alma e, com isso, definir meu caráter.

28.2.11

Em desenvolvimento

Algumas vezes a tolerância tem mais a ver com a nossa capacidade de olhar o outro com suas qualidades do que propriamente com a gravidade do erro cometido. Por isso desconsideramos erros de quem amamos e nos incomodamos com outros que agem do mesmo jeito.

15.1.11




Sonhos que surgem reais.

Sonhos que aparecem de manhã (ou à tarde - mas ainda a tempo).

Sonhos que falam língua de sonho. E que têm fala doce.

Sonhos que duram um dia, uma conversa e mais um dia debaixo da árvore.

Sonhos que viram saudade e deixam marca de sol. Sonhos.

2.1.11

Fruto e semente


Conheço muita gente e gosto de falar com muitas delas. Em compensação, a outras, sem pudor, prefiro ignorar.

Nessa lista, da forma como vejo, enxergo gente dura, umas arrogantes, outras fracas, influenciáveis, exibicionistas, passivas, corretas, dúbias, voláteis, teimosas, santas e santarronas.

Verdade seja dita, não importa tanto como as vejo mas sim como elas de fato são. Daí a pergunta que fica: elas são assim ou apenas acreditam ser?

O ano começa e os votos de sorte se multiplicam. Todos querem felicidade e desejam sinceramente um ano pleno. Enquanto uns esperam um ano bom como aquele que passou, outros não querem que ele sequer tenha o mesmo cheiro; enquanto alguns vivem um momento de paz e esperam seguir o rumo que encontraram, tantos outros ardem por algo que lhes traga novidade.

Por onde começar? O que não funcionou? Mudar para onde? Fazer a pergunta certa é só o primeiro mas fundamental passo para que os dias seguintes não sejam piores do que aqueles que acabaram de se despedir.

Quando alguma coisa não funciona, quando alguém reclama ou nós mesmos nos frustramos, escolhemos um um novo alvo, bolamos um novo projeto, procuramos novas pessoas, tentamos mudar até boa parte do nosso comportamento. E deixamos tudo para trás, até aquilo que não era ruim. Tendemos sempre, nos recomeços, a abandonar toda a experiência que consideramos não ter dado certo sem perceber que mesmo ali havia coisa a ser aproveitada. Isso é um problema.

Recomeçar - isso não é novidade - fica mais difícil com o passar dos anos para a maior parte das pessoas. Os hábitos, mais sólidos, viram teimosia e surgem como desculpa para não encarar o desgaste das novas tentativas. Se considerarmos o erro como experiência e que quanto mais tempo de vida temos, mais experiência armazenamos, concluiremos que vivemos errando. Essa é a interpretação mais lógica e também mais dura (além de distorcida). Pensar assim ajuda a criar cada vez mais resistência.

Viver mais, começar mais; viver mais, continuar mais. A vida tem um pouco dos dois. Quando desejamos um ano novo, quando fazemos promessas ao cosmo de que "daqui pra frente tudo vai ser diferente", quando prometemos aos nossos amores que a partir daquele dia a vida mudará, só pensamos em zerar a conta, em esquecer a vida acumulada e em levantar novas pilastras. Criamos a ilusão de que tudo até então não passava de uma 'perna seca' que precisa ser amputada (ou implodida).

Porém - ah, porém - acabamos tendo mais de continuidade do que de mudança. Ainda que queiramos produndamente alcançar nossos novos sonhos, ser fiéis às nossas promessas e andar de queixo erguido depois do dever cumprido, não identificamos se a pessoa que queremos ser é a semente de uma nova vida ou se é o fruto de quem nós éramos. Sim, somos ambos.

Plantamos, seivamos, e, por fim, damos frutos que germinarão novamente. E qual deles somos: a árvore ou a semente?

Voltando ao começo da conversa, nós somos aquilo que dizem de nós? Será que nós já tivemos oportunidade de sermos exatamente do jeito que seríamos se não nos tivessem cobrado tanto, se não nos tivessem incentivado tanto? Será que trabalharíamos tanto ou tão pouco se nossas experiências familiares e sociais tivessem sido diferentes? Será que seríamos tão alegres ou azedos se as nossas vidas tivessem sofrido (ou deixado de sofrer) alguns momentos-chave?

E se você tivesse tempo suficiente para se afastar de tudo que te envolve, ao final de um ano seria a mesma pessoa que acredita ser? Quem é santo, ou sério, ou fraco, ou responsável, ou irritante? Quais foram os papéis que aceitamos viver sem ter tempo de descobrir (ou conhecer) quem existe dentro de nós?

No dia que nos conhecermos, será que quereremos mudar? Ou será que continuaremos a achar que somos um projeto pronto?

Seja como for, não podemos deixar de ter em mente que produziremos nossos próprios frutos e que tudo começará de novo curiosamente a partir daí, ou seja, daquilo que já era.