Limites

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26.6.04

O LUGAR E O TEMPO DAS COISAS

Saudosismo é um mal que todo mundo sofre, inclusive eu. E tenho andado saudoso, especialmente hoje. Queria poder dizer, com toda a certeza, que o lugar das coisas passadas é no passado, mas infelizmente hoje a falta de certeza me impede.

É verdade que tenho sentido muita - muita falta mesmo - de um tempo que vivi. Não por coisas certas. Não é a falta de pessoas ou momentos específicos. Talvez seja insatisfação com o presente. Sim, tenho saudades, mas não quero ser saudoso. Não sei até onde alimentar esse mal pode me fazer bem. A saudade pode ser boa e grata, mas quando vira lamentação pelo que já não é mais, vira tortura e depressão.

Acho que minha vida nos últimos 10 anos renderia um bom livro, ela foi intensa involuntariamente. Recordar alguém, um tempo, um dia, até que me faz bem, traz um bom sorriso e dá vontade de trazer para o agora caminhos que se perderam. Mas é apenas um surto. Surto passa. Fica a certeza de que foi mas não é. Seria, não será. Alguns dias precisam ser passados para fazer minha história, senão não haveria presente.

Coisa estranha essa de saber que o lugar das coisas é no passado, que saudosismo é uma doença que todo mundo sofre, que eu construo meu futuro mas que só posso defini-lo com base num terreno que não conheço. E mais, que mesmo que pudesse fazer diferente, talvez meu passado não servisse para o meu futuro.

Se tudo isso pareceu estranho ou confuso para você, me desculpe. Foi assim porque está estranho e confuso para mim. Talvez você queira, ou quisesse, trazer um sentimento que ficou para trás, mas não dá. Desculpe, desculpe..........

14.6.04

CONSIDERAÇÕES, CURIOSIDADES E APRENDIZADO

aviso: esse é um desabafo meio longo


Esse blog sempre me desafia. Fico tentado a escrever, e, confesso, penso no que pode atrair alguém a ler minhas linhas e quem sabe elogiá-las...tudo em nome do ego. Mas isso não é regra. Sempre quis mesmo anotar algumas coisas que eu pensava e depois esquecia porque não tenho muito boa memória. Começou assim. Depois foram se multiplicando células cancerígenas que no princípio achava benigno. Elas criaram a caixa de comentários, contador de visitas e idéias mirabolantes sobre o template.

Nesse período que passei sem escrever - por total ausência de atividade cerebral -, me dediquei à leitura. Por várias vezes me deparei com questões políticas quase escritas. Querem exemplos? O avião do Lula ou as Harley Davidson da Polícia Federal comprados há pouco tempo; a rebelião de Benfica, direitos humanos dos presos e a divisão de carceragem por facção criminosa; a inércia do governo estadual do Rio. Mas nada disso era suficiente. Aguçava minha vontade, coçava minhas palmas mas não viravam palavras escritas ou pensamento continuado. Não viravam ideáis. Pensava em escrever mas ia fazer macarrão ou pintar a varanda.

Li e estou lendo Dostoiévski, escritor russo do século XIX, romancista. Seus livros têm me ajudado a recordar da linguagem antiga e das outras formas de conjugação verbal além, é claro, de exercitar minha imaginação tentando visualizar os personagens. Só que, por incrível que possa parecer a vós outros (que tal esse vós outros?), não foi ele que me tirou do lugar-parado. Foram sites. Foram blogs. Estranho? Sim. Estranho? Não.

A mesma curiosidade que moveu o país a acompanhar a Casa dos Artistas I e BBB I, que levou uma multidão em todo mundo a baixar o ICQ e ainda faz salas de bate-papo ficarem cheias, te traz aqui e me leva a outros sites. Curiosidade, curiosidade, curiosidade.

Que vontade estranha é essa que nos leva a querer participar da vida dos outros? Que vontade louca é essa que nos faz querer saber o que acontece na vida de alguém que não somos nós mesmos e, por muitas vezes, são absolutos desconhecidos com quem não possuímos a menor relação? Curiosidade. Mórbida curiosidade? Digo que não. Vivífica curiosidade!

Não sei porque mas tenho me emocionado com muita facilidade. Tá bom, acho que sei: essa primeira semana de junho foi difícil pra mim. Dia 02 seria aniversário do meu pai, dia 06 foi o dia que ele morreu, dia 07 o que foi sepultado...há dois anos atrás. Tudo me quebra, inclusive lembrar. Tenho quase chorado com questões nacionais distantes de mim, com os ridículos casos de família do programa do SBT, com qualquer coisa que não seja totalmente feliz. O que a curiosidade tem a ver com a minha atual fragilidade? Talvez haja relação. Como disse não foi Dostoiévski que atraiu mais minha atenção, foram alguns blogs. Por trás dessas páginas, no entanto, não estão jornalistas, não estão redatores, estão pessoas. Pessoas que se expõem em idéias e segredos. Pessoas que, inexplicavelmente, abrem suas vidas e suas dores para que anônimos distantes tomem dela conhecimento. E talvez a julguem...Tenho visto muitos sites de variados temas e diversas redações. Algumas parecem bem instruídas e maduras, outras ainda novas e sem muito a dizer. Mas caramba!, não importa se disseram ou não. Estiveram ali os autores do blog, que na vida são meros personagens, talvez apenas para dizer "hoje fui ao shopping", ou simplesmente: - Querido diário, hoje estou triste por isso não quero falar com você.

Não. Não importa mesmo o que foi escrito. Importa quem disse. Importa que eu estou participando da vida de alguém, lendo seus sentimentos, torcendo para que as dores sarem e virem apenas cicatrizes como se tudo fosse um capítulo de novela à espera do final feliz. Eu estou participando da vida de muita gente solitária que não me conhece, mas que, justamente por deixar esse vínculo aberto, me deixa compartilhar suas expectativas. Queria poder dizer pessoalmente para elas: você deixou de estar só. Curiosidade mórbida? Não. Curiosidade vivífica!

Estranha essa internet. Afasta as pessoas protegidas pela tela fria do monitor e distantes pelo fio do telefone, mas as aproxima em seus sulcos mais profundos de dores da alma, comuns em muitos homens e mulheres que de parecidos nada têm. Curioso mesmo.

12.6.04

BATALHA ÍNTIMA AO INIMIGO DESCONHECIDO

Sentimento inominado que leva meu sono,
inquieta o coração, perturba a consciência e atordoa a alma.
Não sei ao menos onde resides para poder te combater.
Há muito procuro tua morada a fim de resgatar meu prazer.
Tu que tens, diuturnamente, sem alarde, com força porém,
esvaziado a felicidade que tanto anelo e com desvelo construía.
Diz-me logo, quem és?

Não vês que és louco, ingrato?
Se em mim nasceste e de tua nascente roubas a vida, matas a ti mesmo pois comigo morrerás.
Deveras sabes o real motivo de tua missão?
Se o sabes bem e ainda assim persistes nessa peleja,
digo que teu desejo será frustrado, pois descobrirei teu abrigo, conhecerei tua fraqueza,
e, ao fim, me clamarás clemência.