Limites

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23.8.06

Confissões Póstumas em Vida

Aos meus amigos adeus, hoje morrerei em paz. Antes de ir, porém, saibam que peço desculpas por tantas vezes que não me despedi.
Depois de ir e voltar tantas vezes, depois de estarmos juntos e distantes, consigo ver que já fomos estranhos mesmo após tanto conhecimento.
Hoje sei que precisaremos nos apresentar, nos acomodar, nos moldar em ainda tantas ocasiões.
Morro hoje e amanhã também, mas levarei profunda saudade até amanhecer de novo. Na aurora que virá serei um novo homem, mudado por uma noite, transformado pelos meus sonhos esquecidos.
Minha manta é um manto, sou larva da noite que não voa de dia, sou homem caminhando, sendo mudado. De novo preciso me apresentar.
Digo que não sou gente, sou experimento, minha própria cobaia dos planos que bolei, sou minha miséria e minha possível fortuna.
Na ressurreição dos dias que virão, não me levem a mal se não lhes olhar, não é descaso apenas não os conheço mais.
Sou distante, virei refém. Deixo testamento de herança perpétua e incorruptível a ser partilhada no final de cada noite, a cada morte: meu carinho incondicional, meu reconhecimento sincero.
Deixo minha melhor parte: sentimentos vindos de coração fraco, todo o meu afeto.
Como última vontade, só peço que velem meu sono diariamente, como sinal de luto por ter eu desfalecido antes de voltarmos a nos ver.
Estarei a esperá-los amanhã cedo, com a mesma alma, para nos conhecermos e caminharmos, e -juro!-, não os deixarei antes das estrelas.

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