Limites

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22.5.10

Direto de Kentucky

Assistindo Late Show hoje, ouvi a história abaixo que se ajusta com o que tenho pensado e buscado viver.

"Eles tiveram notícia de que aquele sujeito, que havia se mudado de Chicago para o interior do Kentucky, era policial aposentado e costumava tocar gaita-de-fole em cerimônias para homenagear seus companheiros mortos em trabalho. Com a morte de um grande amigo, resolveram convidar o ex-policial para tocar no enterro. Apesar de não conhecer a família, de estar aposentado e já não tocar há algum tempo, aceitou.
Como estava na cidade há pouco tempo, acabou perdendo-se pelas estradas do interior, entrou em fazendas por engano e chegou 1 hora e meia atrasado ao sepultamento. Todos já haviam ido embora: pastor, familiares, amigos, apenas os coveiros descansavam a poucos metros de distância. Olhando o caixão já baixado, ainda que sozinho, começou a tocar sua gaita com a mesma emoção que tinha quando rendia as últimas homenagens a alguém próximo. E chorou enquanto tocava."

Viver a dor do outro, ainda que distante; usar seus talentos sem pedir nada em troca; dar seu tempo para cuidar de prioridades que não são suas. Isso faz toda a diferença. E cada um de nós, se quiser, pode fazer diferença e marcar a vida de muitos outros.

17.5.10

Ausência - de Vinícius de Moraes


Não bastassem as incomuns genialidade e sensibilidade de Vinícius, não tenho me forçado a achar definição pros meus dias e assim fujo dos meus pensamentos. Como o deleite na arte é certo, para não incorrer no abandono, deixo a beleza de quem entendeu o amor sem vulgarizá-lo, sem subestimá-lo, e sem jamais abandoná-lo:


"Eu deixarei que morra
em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada."

Confissões de dias difíceis


A confusão das últimas semanas tem tirado as letras de mim. É curioso porque, ao mesmo tempo em que estou invadido de palavras que voam, amontoam-se e formam pilhas de preocupação, fico tão perdido que já não sei direito o que sinto. Faz alguns dias que não sei o que sinto.
Raramente falo de casos, raramente falo de abstração - pelo menos aqui. Perigosamente falo de mim, daquilo que vi, do que vivi. Mais que tudo, do que senti.
Problema grave é que minha cota de onipotência está perto do fim, ao menos é assim que me sinto: fraco. Tenho esperado com angústia nos últimos dias por lampejos de brilhantismo, por mágicas mais que ilusórias, por milagres mais que improváveis. Deixar a mão estendida não tem sido suficiente para curar quem precisa e nem mesmo para aplacar minha infinita necessidade de socorrer a quem amo. Dias difíceis esses: sem respostas, sem milagres, sem palavras. Só de esperança.

10.5.10

União civil dos homossexuais

Sim, sou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo (parte 1). Além disso, concordo com a adoção de crianças por casais homossexuais (parte 2). Quem me conhece pode estranhar as afirmações pelo fato de eu ser cristão, ligado a igreja que não realiza esses ofícios e, por seus princípios, jamais os realizará ou incentivará. Nessa condição só vejo o casamento como lícito se for realizado entre homem e mulher.

Mas meu voto favorável a ambos os temas não está vinculado à fé que professo, mas à minha condição de cidadão. Enquanto cristão, mantenho-me aliado à visão religiosa do tema, o que não me impede de ter bons relacionamentos, respeitar e defender que os homossexuais tenham garantidos os mesmos direitos dos heterossexuais frente à Administração Pública.

Já se vão mais de 500 anos desde o Renascimento, momento histórico ao qual a Reforma Protestante está ligada. Nela, uma das mudanças propostas pelos reformadores era justamente a separação entre Estado e Igreja. Desde então essa ideia passou a ser incorporada aos fundamentos de diversos Países, tendo até hoje sua maior bandeira na França através do lema “liberdade, igualdade, fraternidade”. Igreja é igreja e deve manter sua convicções, manter sua ética, lutar para que a verdade na qual acredita seja praticada por seus líderes e liderados. Estado não é igreja. O Estado, na concepção romana, é um ente abstrato, impessoal, uma criação que tem como finalidade servir aos seus habitantes.

Dentro do Estado laico e distante do Teocrático, não consigo enxergar outra postura oficial senão a de garantia ampla de acesso igualitário aos direitos a todos os cidadãos. O cidadão usa o solo, paga imposto, compra, vende, vota e é votado independente de sua religião ou opção sexual. Esse Estado que não questiona a opção sexual para recolhimento de impostos, da mesma maneira não pode impor limitações aos direitos civis daqueles que, sexualmente, não seguem as tradições da maioria.

Ainda, o Estado não poderia impedir, como conseqüência lógica, o direito de herança ao companheiro(a) que, junto com seu parceiro(a) construiu certo patrimônio dentro de uma relação tida como casamento. “Dentro de uma relação tida como casamento” que precisa passar a ser chamada de casamento. Assim como os heretos têm direito a essa formalidade social que permeia o sonhos de quase todos nós, os homos não podem ter, enquanto cidadãos, esse sonho roubado.

Enfim, pregando uma tese antiga trazida pelos Reformadores da igreja, sustento que o Estado não pode nem deve estar vinculado à Eclesia, seja através da concessão de títulos, seja da doação de terras ou da imposição de suas doutrinas.

“A César o que é de César”….e de Julio, Serginho, Dicesar, Rick ou outro nome que quiser escolher.

3.5.10

As veias abertas do Rio de Janeiro

Noutro dia recebi um email da Verônica que contava a seguinte história:

Todos os dias passo pela Nossa Senhora de Copacabana, quase em frente ao Copacabana Palace e vejo um rapaz sentado no chão de muletas, pedindo esmolas. Algumas vezes dei uns trocados, outras não, mas ele sempre me dava bom dia, boa tarde…simpático até.

Hoje, quando passei por ele por volta das 17hs, havia um aglomerado de pessoas em volta dele, estirado no chão, agonizando. Seus olhos estavam esbugalhados. Uma mulher o abanava com um pedaço de papelão, outra dizia “Ele vai morrer até chegar a ambulância!”. Ligaram para o socorro, mas sabe-se lá quem respondeu: – “Ah é de rua, deixa morrer, menos um…”

E eu, o que digo diante desse relato? Não estamos falando de governo, de política demográfica, de falta de leitos, de falta de emprego. O camarada que parecia uma espécie de ‘mendigo do bairro’ (aquele educado que não é agressivo ou se mostra perigoso, que não cambaleia bêbado, recebe quentinha das viúvas, roupas e até uns trocados…), pode ter escolhido viver na rua. Sim, há quem faça essa opção (conheço um caso de perto). A incredulidade diante da reação “deixa morrer” não pode ser repassada para a abstração estatal, não pode ser jogada no colo dos insensíveis governantes. Essa, meus amigos, é culpa de gente, de alguém que tem nome, CPF, endereço, família, alguém que pode ser o cidadão sentado ao nosso lado no banco do metrô.

“Deixa morrer” é o que muita gente diz hoje. É o pensamento burguês de uma classe média decadente moralmente, com cada vez menos princípios, menos objetivos que não sejam o de ter carros novos, apartamentos ornados e um closet para substituir as roupas que já não cabem mais no armário.

Não podemos mais falar apenas de ética, de corrupção, de segurança, de saúde, das enchentes, da falta de moradia, da falta de transporte digno. Precisamos rever os conceitos que estamos passando para a geração que virá depois de nós, os ensinos que andam pregando aos nossos filhos, os exemplos que estamos dando a eles. Por onde anda a compaixão, por onde anda a caridade, por onde anda a mão estendida? Que tipo de gente nós somos?

Que loucura!

De ontem pra hoje tive um sonho louco. Mais que um sonho, uma conversa.

Passei por aqueles dias em que você acorda e volta a dormir algumas vezes, por uma daquelas situações raras em que acorda e consegue lembrar do que sonhou. Mais que isso!, lembrei do que estava sonhando e, ainda sonâmbulo, voltei a fechar os olhos. O sonho continuou.

Já era quase de manhã. Abri os olhos zonzos com a memória forte da conversa que, sonhando, estava tendo com duas amigas e a impressão que tive foi a de um pedido: hei!, vai acordar sem responder à minha pergunta???? Achei tudo muito esquisito e (claro) tentei dormir novamente. Consegui e elas estavam lá, esperando a continuação do bate-papo....

O que eu respondi? Não lembro. Droga!