Sim, sou a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo (parte 1). Além disso, concordo com a adoção de crianças por casais homossexuais (parte 2). Quem me conhece pode estranhar as afirmações pelo fato de eu ser cristão, ligado a igreja que não realiza esses ofícios e, por seus princípios, jamais os realizará ou incentivará. Nessa condição só vejo o casamento como lícito se for realizado entre homem e mulher.
Mas meu voto favorável a ambos os temas não está vinculado à fé que professo, mas à minha condição de cidadão. Enquanto cristão, mantenho-me aliado à visão religiosa do tema, o que não me impede de ter bons relacionamentos, respeitar e defender que os homossexuais tenham garantidos os mesmos direitos dos heterossexuais frente à Administração Pública.
Já se vão mais de 500 anos desde o Renascimento, momento histórico ao qual a Reforma Protestante está ligada. Nela, uma das mudanças propostas pelos reformadores era justamente a separação entre Estado e Igreja. Desde então essa ideia passou a ser incorporada aos fundamentos de diversos Países, tendo até hoje sua maior bandeira na França através do lema “liberdade, igualdade, fraternidade”. Igreja é igreja e deve manter sua convicções, manter sua ética, lutar para que a verdade na qual acredita seja praticada por seus líderes e liderados. Estado não é igreja. O Estado, na concepção romana, é um ente abstrato, impessoal, uma criação que tem como finalidade servir aos seus habitantes.
Dentro do Estado laico e distante do Teocrático, não consigo enxergar outra postura oficial senão a de garantia ampla de acesso igualitário aos direitos a todos os cidadãos. O cidadão usa o solo, paga imposto, compra, vende, vota e é votado independente de sua religião ou opção sexual. Esse Estado que não questiona a opção sexual para recolhimento de impostos, da mesma maneira não pode impor limitações aos direitos civis daqueles que, sexualmente, não seguem as tradições da maioria.
Ainda, o Estado não poderia impedir, como conseqüência lógica, o direito de herança ao companheiro(a) que, junto com seu parceiro(a) construiu certo patrimônio dentro de uma relação tida como casamento. “Dentro de uma relação tida como casamento” que precisa passar a ser chamada de casamento. Assim como os heretos têm direito a essa formalidade social que permeia o sonhos de quase todos nós, os homos não podem ter, enquanto cidadãos, esse sonho roubado.
Enfim, pregando uma tese antiga trazida pelos Reformadores da igreja, sustento que o Estado não pode nem deve estar vinculado à Eclesia, seja através da concessão de títulos, seja da doação de terras ou da imposição de suas doutrinas.
“A César o que é de César”….e de Julio, Serginho, Dicesar, Rick ou outro nome que quiser escolher.