Limites

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3.5.10

As veias abertas do Rio de Janeiro

Noutro dia recebi um email da Verônica que contava a seguinte história:

Todos os dias passo pela Nossa Senhora de Copacabana, quase em frente ao Copacabana Palace e vejo um rapaz sentado no chão de muletas, pedindo esmolas. Algumas vezes dei uns trocados, outras não, mas ele sempre me dava bom dia, boa tarde…simpático até.

Hoje, quando passei por ele por volta das 17hs, havia um aglomerado de pessoas em volta dele, estirado no chão, agonizando. Seus olhos estavam esbugalhados. Uma mulher o abanava com um pedaço de papelão, outra dizia “Ele vai morrer até chegar a ambulância!”. Ligaram para o socorro, mas sabe-se lá quem respondeu: – “Ah é de rua, deixa morrer, menos um…”

E eu, o que digo diante desse relato? Não estamos falando de governo, de política demográfica, de falta de leitos, de falta de emprego. O camarada que parecia uma espécie de ‘mendigo do bairro’ (aquele educado que não é agressivo ou se mostra perigoso, que não cambaleia bêbado, recebe quentinha das viúvas, roupas e até uns trocados…), pode ter escolhido viver na rua. Sim, há quem faça essa opção (conheço um caso de perto). A incredulidade diante da reação “deixa morrer” não pode ser repassada para a abstração estatal, não pode ser jogada no colo dos insensíveis governantes. Essa, meus amigos, é culpa de gente, de alguém que tem nome, CPF, endereço, família, alguém que pode ser o cidadão sentado ao nosso lado no banco do metrô.

“Deixa morrer” é o que muita gente diz hoje. É o pensamento burguês de uma classe média decadente moralmente, com cada vez menos princípios, menos objetivos que não sejam o de ter carros novos, apartamentos ornados e um closet para substituir as roupas que já não cabem mais no armário.

Não podemos mais falar apenas de ética, de corrupção, de segurança, de saúde, das enchentes, da falta de moradia, da falta de transporte digno. Precisamos rever os conceitos que estamos passando para a geração que virá depois de nós, os ensinos que andam pregando aos nossos filhos, os exemplos que estamos dando a eles. Por onde anda a compaixão, por onde anda a caridade, por onde anda a mão estendida? Que tipo de gente nós somos?

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