Limites

Limites

29.4.10

Memórias de um recomeço


Existe uma imensidão de mundo desconhecido, de gente para encontrar, de dias para viver. Há cantos e caminhos. Sempre há um lugar pra onde partir, sempre há um destino. A vida se renova, o sentido se renova, a insegurança que nos escondia um dia se vai.

Nesse recomeço, por algum tempo, vamos andar no escuro tateando e esbarrando nos outros, dando topadas e pedindo desculpas, mas seguiremos porque é importante seguir, seguir nessa imensidão de mundo desconhecido.

Vamos andar no escuro por toda a madrugada mas uma hora o dia nasce, o sol volta, a claridade vem. Dia ou noite, é pela luz interna que nos guiaremos e seremos capazes de não cair no abismo, de não mudar de essência, de não jogar fora todas as nossas conquistas. É com esse lampião que superaremos a escuridão e entenderemos, mesmo com o pé sujo de barro, que não nos perdemos, que andávamos apenas por uma estrada nova.

Por onde quer que andemos, só não podemos deixar de olhar pra dentro. Mesmo contra a nossa vontade ou expectativa, o tempo de caminhada pode ser longo e isso talvez não dependa dos esforços que façamos. Não, não devemos olhar para o caminho, para as pedras ou para o pó, devemos mirar o horizonte. Porque um dia a dificuldade passará, a confusão passará, as dúvidas passarão....Sim, outras virão. E daí?

Deixe a chama sobre a cama, em cima da mesa e à frente dos olhos. Ande!, siga, conheça, reconheça, renove-se, insista. Recomece.

19.4.10

Nada Especial

Eu tive fora uns dias, fui ver o mundo do alto. Não consegui fugir das chuvas brabas mas pude passar tempo com parte da família distante.

Às vezes fugir é bom. A rotina muda, as companhias mudam, as conversas mudam. A perspectiva muda. Ajuda mais ainda quando, como consegui, você viaja para perto da sua história, da sua origem, quando você tem possibilidade de ouvir causos sobre como tudo começou, de tempo que não era o seu e de escolhas que determinaram o rumo da sua vida. Foi assim pra mim.

Volto com todas minhas certezas no lugar e ideias novas. Não chegou a ser uma transfusão de sangue mas há algo de novo correndo por aqui. Quero cuidar de uma coisa de cada vez, resolver todas elas, dar a cada uma a exata importância que deve ter, tentar ser feliz em todas essas escolhas.

A vida vai continuando, com uma boa notícia a cada dia, com uma escolha a cada dia.

13.4.10

O problema é o mate

É do mate, do lixo, das ocupações irregulares de calçadas por carros e camelôs, de encostas, de terrenos na Zona Oeste. É dos carros em fila dupla e de pequenas corrupções. O problema é de formação e de intenção.

Concordo que haja responsabilidade do Governo nas recentes tragédias que vitimaram Rio de Janeiro e parte do Nordeste. Nesses casos, porém, não acho que a culpa atenda pelo nome de Prefeitos ou Governadores. Penso que existe uma responsabilidade governamental mais ampla, tanto de Poder Executivo quanto do Legislativo (representado por suas Câmaras e Tribunais de Contas). Explico.

Tomando o Rio como exemplo, a cidade chegou a um nível de desordem e de descompasso estrutural que me parece inadequado deixar na conta dos atuais governantes toda a herança recebida. Ninguém, nem Juscelino com o dinheiro da Previdência, conseguiria assumir o mandato, verificar as urgências, elaborar projeto de obras, aprová-las em todas as suas esferas, incluir no orçamento, licitá-las e, enfim, executá-las. O calendário não permite.

Sem somar a todos os entraves burocráticos a resistência da população, em 4 ou 8 anos não se consegue mudar um Estado. Lula com toda a sua aprovação e propaganda de ‘nunca antes’, após quase 1 década entregará ao seu sucessor um País sem significativas heranças estruturais. Especificamente falando de ocupação desordenada do solo, se pensarmos que já há, mesmo depois de tantas mortes, resistência dos moradores do Morro dos Prazeres à remoção, como tratar o planejamento da cidade em 1 mandato? Como enfrentar a opinião pública que acaba defendendo o ‘direito do pobre’ por sua pura condição desfavorável? Mais uma vez, ações judiciais em defesa dos despejados impediriam qualquer calendário de ser cumprido por apenas um governante.

O País precisa de um Plano Diretor supragovernamental, elaborado pelas Casas Legislativas, fiscalizado pelos Tribunais de Contas. Os chefes do Executivo devem operar com metas dentro dos seus mandatos. Os municípios e Estados devem ter planejamento de longo prazo feito por suas secretarias, assim como fizeram FHC com seu “Plano Plurianual” e Lula com o “PAC”. Enquanto os governantes não forem tratados como gestores, cobrados em metas reais como já o são na Lei de Responsabilidade Fiscal, continuaremos os vendo com rodos na mão recolhendo a lama que desce a cada chuva de março.

6.4.10

Dias a mais, dias a menos


É natural fazermos planos e é comum esquecermos deles. No decorrer dos dias, alagados por novas preocupações, tratamos de cuidar das urgências e no final de tudo queremos apenas uma boa noite de sono que repare nossos desgastes.

E assim a vida segue com conquistas, com experiência, com novidades que surgem em nosso caminho e vêm para ficar em definitivo. Vez por paramos e pensamos pra onde teríamos seguido, como estaríamos ou quem seríamos se uns dias marcantes tivessem tido um desfecho diferente. Imaginamos, acordamos e seguimos a vida. Sem perceber seguimos, buscamos novas conquistas, guardamos mais experiência e temos outras novidades eternas.

Mas e se você sentisse uma dor esquisita que te levasse a exames. E se o resultado desses exames te levasse ao diagnóstico de que seus dias estão contados? Tudo ficaria igual? Você permanerecia no mesmo trabalho, trataria as pessoas do mesmo jeito, faria os mesmos planos? Você deixaria a vida seguir o mesmo ritmo se no dia de hoje alguém dissesse que você não verá o final do ano?

Para alguns essa notícia libertaria sonhos proibidos e levaria a dias da mais pura canalhice. Já outros afundariam em depressão e esperariam sonolentos o fim que certamente se abreviaria. E nós, o que faríamos? Difícil dizer. Talvez alternássemos um pouco de cada, assim como os dias de inexplicável disposição e os de insuportável bode.

Claro que essa não é a primeira vez que alguém te faz essa pergunta. Afinal, o que pensar? De certa maneira nossos dias estão sim contados, só não sabemos quantos são. A diferença é que receber a notícia faz conhecido o nosso maior medo, mostra que talvez não tenhamos tempo para realizar muito do que planejamos ou para consertar as relações que não caminharam como gostaríamos.

Nossos dias estão contados. E então, o que fazer? Como viver?

5.4.10

Intensive Care Unit

No episódio "O coração de Wilson", House e Amber sofrem acidente num ônibus que termina, ele em coma e ela morta, no seguinte diálogo:

House- Você está morta?
Amber- Sim.
H- E eu?
A- Você ainda não.
(...)
H- A vida não deveria ser aleatória. Ela deveria levar dependentes arrogantes e misantropos, e não lindas jovens no ápice de sua paixão.
A- Essa autocomiseração não combina com você. Você está bem?
H- Não, não estou. Sei que Wilson não vai me perdoar.
A- É verdade, ele não vai te perdoar. Você precisa ir. Está na sua hora.
H- Eu não quero descer. Quero ficar aqui.
A- Por quê? Você não pode ficar.
H- Aqui eu não sinto dor, aqui eu não sou infeliz.
(...)
A- Adeus, House.

Por que transcrever esse diálogo? Por que falar em morte e quase-morte? Apenas para lembrar a mim mesmo que até os autossuficientes, até os desencanados, até os despreocupados têm seu dia de dor, de fraqueza e de não querer enfrentar seus problemas.

3.4.10

Contraponto


Diferente do que pode sugerir, contraponto não é o mesmo que contra-argumento. Contraponto vem da música e diz respeito a harmonia de vozes ou instrumentos. A semelhança dessas palavras acaba na sua estética, já que, transferidas para relacionamentos, preservam sua absoluta diferença e exercem influências distintas. Na verdade contraponto e contra-argumento não são semelhantes, mas não por isso são opostos.

A cada dia vemos com maior frequência as dificuldades de se manter ou desenvolver relacionamentos, agravadas em boa parte pela incapacidade mútua de um falar a língua do outro. Em reação ao que entendemos como incompreensão, falta de atenção ou de cuidado, fechamos-nos e elucubramos as interpretações que parecem mais lógicas àquele estado de coisas. Quando vivemos momentos que passam muito longe dos que idealizamos, e, principalmente quando a frustração desse ideal está ligada ao comportamento da(o) nossa(o) companheira(o), sentimo-nos autorizados a transbordar nossa dor através de contra-argumentos ferinos. Sem perceber, a cada dia minguando mais, reservando-nos mais, reagindo mais, agredindo mais, nossa palavra mais constante passa a ser o não.

Se estamos infelizes e insatisfeitos, se nos sentimos rejeitados e injustiçados, dificilmente somos capazes de concordar com o nosso companheiro mesmo quando ele tem razão. Assumimos a condição de contraditor primaz. Então é formado o círculo "rejeição-contraposição-aumento de insatisfação". Essa é uma espiral que ganha força até que um dos atingidos seja capaz de quebrar a fonte do vendaval, e, igualmente importante, que o outro esteja disposto a desenvolver novos hábitos.

Aqui entra o contraponto. Contraponto, como já dito, é a harmonia entre diferentes vozes ou instrumentos. Fica tão claro perbecer através desse exemplo que as diferenças podem ser utilizadas para a boa sonoridade, para a boa vibração. Ser capaz de ouvir e de encaixar distintos sons é o caminho para que a música tocada seja inspiração para a alma de quem toca e de quem ouve. Os tons e semi-tons, quando usados no momento errado, irritam o ouvido, desafinam e nos fazem querer levantar da cadeira e ir embora. É como o argumento que vira contra-argumento.

Definitivamente não é fácil encontrarmos os nossos contrapontos em outras pessoas. Decididamente, é tarefa das mais desgastantes, quando os encontramos, trabalhar para manter a afinação, a harmonia, e, ainda, ter talento para elevar o tom das notas que foram mal tocadas. Apesar disso, ainda não nos foi revelada satisfação maior do que a boa música, aquela que nos eleva e incentiva nosso espírito.

A definição que não é minha guardei há poucos dias: "amor é quando você encontra o contraponto da sua alma em outra pessoa". Não estamos falando de relacionamentos? Não começamos dizendo que contraponto e contra-argumento não são necessariamente opostos? Pois bem. De fato, não são. Quando somos capazes de entender que podemos tocar instrumentos diferentes ou cantar em tons diferentes, também conseguimos deixar de levantar contra-argumentos a cada contrariedade. Quando somos capazes de entender que os contra-argumentos podem ser utilizados como contraponto em nossos relacionamentos, também conseguimos deixar de usá-los como arma e passamos a vibrar em uníssono e a querer mais música.

1.4.10

Ao trabalho


A tristeza é mais fácil porque é uma rendição.
Já a felicidade, ah!, essa é trabalhosa depende de construção.