Limites

Limites

30.3.10

Acabou o Porto


Nos dias mais turvos, ela estava aqui
Nas noites de chuva, seu gosto me esquentou.
O que minha boca sentia era licor de cheiro ébrio, encantado: perfume de fruta e de álcool, sabor de calor e de fazer suar.
Seu gosto persistia na língua e embaralhava minha razão.
Que pena, hoje provei o último gole. Pela última vez, até buscá-la novamente, dormi tonto.
Hoje acabou minha garrafa de vinho do Porto.

27.3.10

Durma bem


Eu queria ter uma casa, uma casa ao lado de um lago.
A casa teria dois andares, no quarto uma mesa junto à janela de onde eu pudesse escrever e olhar as vinhas. Sim, eu queria ter vinhedos.
Eu queria morar na França, numa cidade pequena e andar por ruas de terra.
Queria ver poeira em vez de fumaça, queria não ter relógio. Eu teria uma moto.
Teria três filhos, ou quatro, quem sabe? Apenas uma mulher. Uma mulher até morrer, morrer feliz.
Eu queria aprender mais da vida, mais de gente, queria conhecer outros lugares. Queria que a vida fosse longa o bastante para pousar durante tempos em terras distantes. E sentir o cheiro, o gosto, ver o sentido que cada povo dá pros dias atuais, pros vindouros, pros incertos.
Queria escrever, e dançar, e ter um piano. Ou um violão. Tocaria com meus 3 ou 4 filhos. Cantaríamos juntos. Dançaria com a mãe deles.
Queria morar na cidade, ser prefeito, ajudar muita gente, fazer política em tudo. Não queria virar nome de rua ou de praça. Queria fazer leis, tocar projetos, mudar vidas.
Queria escrever textos com os quais outros se identificassem, queria escrever músicas e que elas ficassem guardadas como boas recordações. Queria que essas canções fossem para bons momentos.
Queria mais que um bom ano, um bom projeto ou um bom mês. Queria realizar sonhos sem prazo de validade.
Alguns deles vingariam, outros não. Queria ser forte pra buscá-los e não deixar com que ficassem somente como lista daquilo que jamais conseguirei contar.

26.3.10

Se não fossem vocês...

"O telefone não tocou e o carteiro só trouxe encartes, catálogos, nenhum postal. Passados muitos anos tenho ainda a lembrança de tanta gente marcante que dividiu segredos, sonhos e casos inesquecíveis. Impossível esquecer as velhas piadas que ninguém mais entendia. A vida passou e não sei mais onde eles estão.

Não sei como mas a terceira parte da vida tinha corrido e tudo que tinha eram boas recordações de um tempo que, mesmo tendo sido de poucos anos, havia gravado emoções que jamais se apagariam. Das amizades que um dia prometeram ser eternas não sabia sequer o endereço ou o telefone. Por onde andariam? Pra onde caminharam?

A tristeza não me corroía totalmente porque tinha muitos bons momentos passados. A vida que hoje era de uma monotonia deprimente, revelava-se mais brilhante quando trazia da juventude rostos que vira dia após dia, com quem havia descoberto quem eu era e quem gostaria de ser. A chama que ainda vivia era a do passado. Como foi bom!"

Infelizmente há quem não se orgulhe do que viveu. Há quem simplesmente não tenha história e funde suas esperanças nos dias que ainda virão, na expectativa de enfim viver intensamente e, um dia, ter do que lembrar. Todos precisam do passado, todos precisam do futuro, pois a falta de um ou de outro tira do presente boa parte do seu sentido.

Não ter referências afetivas, não ter amigos que lhe conheçam desde sempre o impede de ver confrontadas suas mudanças de temperamento, seu amadurecimento emocional, e, também, dos erros que permanecem apesar das rasteiras que deveriam ter-lhe ensinado a endireitar seus caminhos.

Não ter objetivos afeta a motivação, nos faz seguir sem saber pra onde, nos faz escolher sem saber o porquê. Daí a importância de buscar sempre novos caminhos, de preferência, contando com as conquistas que nos serão mais caras com o passar dos anos: os relacionamentos que fomos capazes de cultivar.

Relembrar é ótimo porque trazemos à tona das nossas caixas de memória sentimentos relacionados aos eventos que recordamos. Quando relembramos, sentimos de novo tanto o calor quanto o frio, a tremeção, a expectativa, a explosão de alegria... Feliz é quem tem do que falar, de quem falar, o que sentir. Feliz é quem tem histórias.

Mais feliz é quem continua vivendo-as. Com todas as agruras naturais aos relacionamentos, mas vivendo-as. Conseguir permanecer ao lado daqueles com quem você construiu sua história é desafio dos mais recompensantes mas não é fácil. É difícil porque, no desfiar da vida, aparecem oportunidades que nos levam pra longe, aparecem pessoas que nos levam pra longe e nos fazem mudar a maneira de pensar. É natural que nos alinhemos com quem comungamos gostos e ideiais, mas quando essa semelhança se desfaz, afastamo-nos. Quantos ficam?

O desafio de reviver talvez seja maior que o da primeira aproximação, da construção da amizade. Tudo que precisa ser reconstruído é mais difícil porque no começo não há marcas, não há queixas, não há conhecimento sobre aqueles defeitos que às vezes nos incomodam. Reviver é difícil, mas é gratificante. Reviver é escolher lutar por manter conosco as pessoas que aproximaram-se, contribuíram para parte da nossa personalidade e estarão sempre voltando naqueles sonhos estranhos que, vez por outra, surgem no meio da noite.

Claro que a vida não acaba quando deixamos pelo caminho nossos pilares, afinal, todo dia é dia de recomeçar, conhecer gente nova, iniciar novas relações, construir novas histórias. Mas, entre "lembrar de novo" e "viver de novo", entre a dura saudade e a possibilidade de olhar pro lado, viver "de novo e sempre" é bem melhor.

17.3.10

O Rio contra Ibsen

Não vou falar sobre o eterno 'Anão do Orçamento', Sr. Ibsen Pinheiro. Ele é apenas um dos que aproveitam-se das facilidades que a moral escorregadia do brasileiro aceita. Nunca é exaustivo lembrar que o voto secreto e a democracia vigoram nessa terra que "em se plantando, tudo dá", e esse cidadão foi eleito por votos que valem tanto quanto o meu e o seu.

Que fique o Deputado em defesa dos seus interesses e daqueles que o patrocinam, e nós do outro defendendo-nos de mais uma tunga. Digo mais um roubo em razão da recente história de perdas que o Rio de Janeiro suportou. Chega a ser cansativo ouvir a queixa de outros brasileiros acerca da favelização, do crime organizado, da falta de empregos, da desorganização, da sujeira que cobre as ruas, enfim, do visível e vergonhoso declínio vivido pelo estado que sempre projetou tão bem a imagem do Brasil mundo afora.

Esquecem-se os queixosos de informações que não são minhas e que certamente muitos dos que as lerão conhecem. A cidade que já foi capital da colônia no século XVII e, a partir de 1808, do Império Português, continuou como centro das decisões políticas até 21 de abril de 1960 com a mudança da capital da República para o interior do País.

A perda de relevante parte da sua população economicamente ativa (servidores públicos federais) deu início ao declínio da economia carioca com a diminuição não do prestígio político, não da capital, mas do capital circulante.

Não bastasse, o recém-criado Estado da Guanabara - que apesar de tudo ainda andava bem-, em 1974 sofreu novo golpe às suas finanças com a fusão ao Estado do Rio de Janeiro. Em suma, as verbas vindas de impostos e investimentos diretos que sustentavam o "Rio dos sonhos de todos os brasileiros" foram minguando ano após ano e, ainda, passaram e ser divididas com os demais municípios fluminenses a partir de 74.

Passaram-se 3 décadas de declínio e abandono. Justamente quando tanto a economia estadual quanto a organização municipal começam a dar mostras de uma enfim ressurreição, a estranha força que orientou os movimentos anteriores novamente vem tentar assaltar o povo que representa, com mais legitimidade a beleza, alegria e simpatia de todos os brasileiros.

A covardia contra o Rio é contra o Brasil. Desmoralizar a cidade que simboliza a beleza brasileira e permitir que, sem recursos, o abandono a ultraje cada vez mais é consentir que todos nós sejamos envergonhados. O Rio não é apenas uma cidade ou um estado, é o símbolo de uma Nação.

16.3.10

Relembrar ou Reviver?

Conversando com um amigo no último sábado falamos um pouco sobre a grande diferença entre 'relembrar' e 'reviver'. Quero pensar um pouco mais e maturar em palavras o resultado dessa troca. Em breve...

Curtas

Por alguma razão desconhecida gosto de biografias. Estou lendo a de Francisco de Assis Chateubriand Bandeira de Melo ("Chatô - O Rei do Brasil" de Fernando Morais) e confesso que tanto a história do homem quanto a escrita de Fernando têm me envolvido. Não sei se é o enredo que facilita o trabalho do escritor ou o talento deste que torna a prosa mais atraente. De qualquer maneira, hoje consegui romper a barreira das 200 páginas mas o final ainda está longe. Uma vida que rende 700 páginas bem escritas é raro. Sinceramente ainda não descobri se, dentro dos meus sonhos, prefiro ter o talento de quem é capaz de escrever um livro desses ou se o personagem central tão cheio de causos.

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Há alguns momentos em que me sinto incomodado a sair de casa e juntar-me à massa. Apesar de com o passar dos anos estar ficando avesso a multidões, aglomerações e afins, as conversas políticas que me atraem vez por outra cutucam o que, na falta de uma definição melhor, vou chamar de 'Minha Cidadania'.

Isso que para mim soa como dever cívico, como obrigação em engrossar o coro por mudanças, em exigir que a letargia seja extirpada, já me levou à passeata dos Caras Pintadas em 1992 e agora me incomoda a repetir o mesmo trajeto (Candelária-Cinelândia) contra a Emenda Ibsen.
Apesar da relevância do tema (tudo que envolve dinheiro.....), vejo como mais importante o engajamento tanto do Governo quanto das pessoas nessa briga. Há tempos estamos dormindo, deixamos o abandono nos cercar, os buracos nos engolirem, as favelas maltratarem os favelados e (ainda)não-favelados...

Certamente, caso aprovada a Emenda Ibsen, o substitutivo do Senador Pedro Simon ou qualquer outro golpe semelhante estaremos, povo do Rio de Janeiro, mais uma vez violentados em nome do que chamam de interesse nacional.

Quarta-feira estarei lá e voltarei pra falar mais sobre a recente história de perdas que temos sofrido desde 21 de abril de 1960.

12.3.10

Declarações Roubadas

Essa semana lembrei de Cazuza, ouvi umas músicas e me permiti apropriar-me de algumas das suas palavras. Coisas como: "contar besteiras", "tanta coisa em comum" e ter medo de dizer que te amo, outras como "deixar escapar segredos".

A singeleza de questões simples e que intimamente todos nós sonhamos viver um dia deixa nossa mente voar. Essas situações tão repetidas quando não prestamos atenção, estranhamente acabamos travando nas relações afetivas.

Talvez os medos, as obrigações ou os modelos pregados nos impeçam de sermos 'nós mesmos', 'simplesmente nós', talvez essas tramas nos impeçam de viver sem nó(s).

Carta ao Imperador

Autoria: Fla Manguaça


ADRIANO, IMPERADOR DOS NOSSOS SONHOS


Atribui-se ao maestro Tom Jobim a autoria da frase de que no Brasil o sucesso é interpretado como uma ofensa pessoal, já que a procura de imperfeições e vacilos dos nossos heróis é o esporte nacional praticado com mais afinco pelos chatos de plantão.

A Nação Rubro-Negra, a porção mais feliz que habita essas terras, tem imenso orgulho de ser governada por um Imperador generoso e atento às agruras de seus súditos, que esperaram tantos anos para poderem triunfar novamente. Adriano devolveu a todos nós a autoestima inflacionada que todo flamenguista tem tatuada na alma. É natural que os frustrados de sempre vistam suas fantasias de mexeriqueiros e façam da fofoca o refúgio de suas respectivas invejas.

O torcedor rubro-negro, ao revés, faz da crença em seu Imperador, o guerreiro que nos devolveu o direito de sonhar com a reconquista do planeta, a inspiração para apoiar e empurrar nosso exército a mais uma vitória, e depois a mais outra, e depois outra ainda mais, até que todos os nossos rivais tombem e estejam devidamente recolhidos às suas minúsculas insignificâncias.

À FLA MANGUAÇA, torcida que há 15 anos frequenta os estádios divulgando sua mensagem de paz e alegria, lembrando a todos que futebol é ainda melhor quando celebrado com cerveja, incomoda ainda mais toda essa hipocrisia, falso moralismo, conselhos abjetos e histeria coletiva contra o consumo de álcool. Imperador, não se iluda: essas candinhas, se pudessem, censuravam a alegria, proibiam a felicidade, acorrentavam o prazer e passavam a entoar seus sermões moralizadores como a panacéia para todos os males.

Imperador, fique tranquilo. Da arquibancada jamais lhe faltará incentivo, compreensão e confiança. Nosso apoio a você é incondicional, irrestrito. Só não é maior do que a nossa gratidão por tudo que você já nos deu

9.3.10

"Estou no céu"

Sem palavras mas apenas com sorrisos, podemos receber essa declaração que merece ser feita em sussurros, bem baixinho, para que ninguém mais a ouça: "estou no céu"!

Estar no céu é flutuar, sentir-se leve, desprendido de todo o peso que a gravidade insiste em fazer sempre grave. Estar no céu é sinônimo de realização, de êxtase, de liberdade completa. Estar no céu é expansão de felicidade, é quando a alma, ainda que por raros instantes, torna-se maior que o corpo.

Podemos caminhar no céu e lá também darmos as mãos, podemos somente olhar e, de novo sem qualquer som, saber que não estamos mais no chão. Podemos nos esconder do dia, olhar de longe, esperar os dias e, ainda assim, sentir a plenitude que nos enche de fôlego, de vontade de voar novamente. Podemos descobrir como é maravilhoso falar diretamente ao coração. E suspirar. E levitar.

Não ganhamos asas sozinhos. Se andamos sobre as águas, sobre a grama molhada ou entre as nuvens é pela presença de algo maior, de um sonho que insiste em tornar-se possível, constante, quase irreal. Se não fazemos como os outros, se não entramos em vilas, se não deixamos pegadas é porque não somos os outros, não precisamos de chaves, não andamos com os pés no chão. É porque o céu está ao alcance das nossas mãos.

Estar no céu...por pouco ou por muito, sempre ou raro. Bastam ideias, basta coragem, basta querer. Basta subir o muro, olhar o mundo de cima e dar o passo à frente que, inexplicavelmente, nos fará flutuar.

5.3.10

Baile de Máscaras

Já nas primeiras linhas vou tentar vaticinar resposta à pergunta: por que fingimos tanto no início dos relacionamentos?

Sem introdução posso dizer, com alguma precisão mas sem encerrar o pensamento, que escondemos nossos rostos por medo. Temos medo de que o objeto do nosso desejo veja nossos ciúmes, nossa tosquice, nossa rudez, nosso egoísmo; não queremos que o "alvo das nossas intenções" nos perceba impaciente, deselegante, desinformado, desajustado. A imagem que pintamos é Renascentista!

Passado algum tempo, obviamente não conseguimos sustentar o braço levantado ao rosto segurando belas máscaras venezianas que faziam tudo parecer carnaval....O braço cansa e cai. Nossas rugas, nossas espinhas, nossos tiques de repente aparecem e causam espanto. A princípio esse susto é relevado pela paixão que conseguimos amealhar nos primeiros dias e é suficiente para sustentar a sobrelevação das nossas imperfeições ainda sem causar graves decepções. Segundo pesquisa citada por Gary Chapman*, a paixão é um evento emocional de desdobramentos químicos com prazo máximo de validade de dois anos. Depois disso, só o amor salva.

Só ao amor salva. Depois de dois anos toda nossa nudez está exposta da forma mais escancarada possível, toda nossa paranóia já ficou nítida e perdemos também o pudor de sermos desagradáveis, de não tentar sequer sorrir quando não temos vontade, de mandar às favas comentários sobre nossas escolhas, manias e desmandos.

Geralmente agimos assim - ocultando o Darth Vader que existe em nós - sem caso pensado, mas para 'perpetuação da espécie'. Queremos, como conquistadores, agradar ao outro gênero da nossa espécie e garantir nosso senso de preservação, de território, de acasalamento, e, numa análise mais evoluída, a possibilidade de conseguir ser amado apesar das nossas fraquezas.

É bem verdade que usamos as máscaras, antes, para nós mesmos. Queremos esquecer cada uma das nossas quase incorrigíveis deformidades comportamentais e chegamos a acreditar que não as repetiremos mais. Tentamos, tentamos, tentamos, tentamos, até que cansamos. Baixamos o braço, caem as máscaras e estamos, de novo, nus.

Encararmo-nos sem maquiagem é um desafio difícil para quem está disposto a buscar cura para erros repetitivos. Precisamos enxergar - e depois assumir - que talvez possamos não ter razão acerca do que pensávamos e que podemos não ser tão agradáveis como imaginávamos. Descobrir que não somos Narcisos é, definitivamente, menos épico que as fantasias de herois que gostaríamos de envergar. É a confrontação necessária ao renascimento de quem está disposto a viver mais feliz, sem tantas frustrações e sem causar tantas decepções. E, claro, sem cansar o braço por ficar tanto tempo segurando sua máscara.

*in As Cinco Linguagens do Amor

4.3.10

Sobre sentir-se leve

"Flutue, mas ao descer, pise devagar. Sinta o chão aos poucos. Não deixe que a carga de estímulos nos seus pés estrague a sensação que teve de levitar."


3.3.10

TEMPUS FUGIT


Pra quem conhece apenas a primeira parte da expressão, ela termina dizendo: o tempo foge. Antes vêm as letras que agora estão em muitas nucas e tornozelos: carpe diem.

'Carpe diem, tempus fugit'. Aproveite a vida pois o tempo foge. Essa é a filosofia, o ideal que justifica a loucura de tantas decisões. É a desculpa da irresponsabilidade.

Você "deixa a vida te levar, (vida leva eu)" e logo pode estar num lugar que não era seu plano, não te agrada, que não diz absolutamente nada. De repente você pode ver que o tempo está passando e nada de relevante ficou. Num instante a vida está acabando e sua morte não merece sequer 'uma nota curta nos jornais'.

Por quanto tempo o nosso rumo já foi definido pelo acaso, pelas curvas, pelas pedras no caminho, pelas decisões tomadas no limite da bifurcação? Essa desatenção com a vida tem feito com que passemos pelo mundo gastando energia sem marcar nossos nomes sequer entre os mais próximos, sem deixar legado de lealdade, comprometimento, ou, mais simples que isso, de boas lembranças.

A individualidade tem ganho mais espaço e ela já é tão grande que dentro da mesma casa falta espaço para mais de duas pessoas. Nessa luta por prazeres e conquistas sem propósito, ter razão torna-se mais importante que ceder pelo bem-estar mútuo. Pensar em si e nos projetos pessoais está muito além dos ideais conjuntos, dos imperceptíveis momentos a dois, a três, a cinco que deixarão lembranças eternas e nos ajudarão a termos nossa identidade emocional bem formada.

'Carpe diem, tempus fugit'. Mas como aproveitar a vida senão pela veia hedonista? Como não se preocupar com o tempo que foge sem querer beber de cada dia seu mais alucinante veneno? Sendo relevante pra quem está próximo, tendo coragem de escolher entre o certo e o confortável, entre a herança e o prazeroso.

Fazer escolhas corretas definitivamente demanda coragem pra abrir mão de muitos benefícios. Podemos optar por tentar viver de maneira relevante ou apenas nos divertir aproveitando cada dia como se fosse o último. Certamente, decidir gastar seus dias ensinando o caminho a outros, buscando entender as fraquezas de quem está perto, estendendo a mão, gravando no coração e na memória carinhos e gestos inesquecíveis, também é aproveitar a vida. Ou melhor, isso sim é aproveitar a vida, porque não importa o quanto o tempo fuja essas marcas sempre serão mais fortes que o esquecimento.

É importante saber como queremos ser lembrados. No dia em que nos formos de vez, ou simplesmente se estivermos longe e alguns pensarem em nós, qual será nosso apelido, nossa alcunha? "O esperançoso", "o lutador", "o negligente", "a louca", "o bom filho", "o pancado", "o complicado"?

Que nossa chama não apague e lembrem de nós como uma geração perseverante e, acima de tudo, amorosa.

RELEVÂNCIA

O amor precisa ser o filtro de todas as nossas relações, de cada uma das nossa decisões.

E por falar em amor, deixo parte do texto de 1 Coríntios com a esperança de termos mais disso em nossas vidas. É a minha busca:

4O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
5Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá

Amor que sufoca, que faz mal, que põe as suas necessidades à frente da do outro? Amor impaciente, com prazo de validade, indeciso, fraco? Amor que depois se descobre não sê-lo?

O amor que Deus ensina é melhor. Ah, antes que eu esqueça de dizer: sim, ele está ao nosso alcance.

Busque, encontro-o dentro de si. Desenvolva o seu amor. Eu continuo a minha maratona, dia após dia, milha após milha, briga após briga, pazes após pazes...