Já nas primeiras linhas vou tentar vaticinar resposta à pergunta: por que fingimos tanto no início dos relacionamentos?
Sem introdução posso dizer, com alguma precisão mas sem encerrar o pensamento, que escondemos nossos rostos por medo. Temos medo de que o objeto do nosso desejo veja nossos ciúmes, nossa tosquice, nossa rudez, nosso egoísmo; não queremos que o "alvo das nossas intenções" nos perceba impaciente, deselegante, desinformado, desajustado. A imagem que pintamos é Renascentista!
Passado algum tempo, obviamente não conseguimos sustentar o braço levantado ao rosto segurando belas máscaras venezianas que faziam tudo parecer carnaval....O braço cansa e cai. Nossas rugas, nossas espinhas, nossos tiques de repente aparecem e causam espanto. A princípio esse susto é relevado pela paixão que conseguimos amealhar nos primeiros dias e é suficiente para sustentar a sobrelevação das nossas imperfeições ainda sem causar graves decepções. Segundo pesquisa citada por Gary Chapman*, a paixão é um evento emocional de desdobramentos químicos com prazo máximo de validade de dois anos. Depois disso, só o amor salva.
Só ao amor salva. Depois de dois anos toda nossa nudez está exposta da forma mais escancarada possível, toda nossa paranóia já ficou nítida e perdemos também o pudor de sermos desagradáveis, de não tentar sequer sorrir quando não temos vontade, de mandar às favas comentários sobre nossas escolhas, manias e desmandos.
Geralmente agimos assim - ocultando o Darth Vader que existe em nós - sem caso pensado, mas para 'perpetuação da espécie'. Queremos, como conquistadores, agradar ao outro gênero da nossa espécie e garantir nosso senso de preservação, de território, de acasalamento, e, numa análise mais evoluída, a possibilidade de conseguir ser amado apesar das nossas fraquezas.
É bem verdade que usamos as máscaras, antes, para nós mesmos. Queremos esquecer cada uma das nossas quase incorrigíveis deformidades comportamentais e chegamos a acreditar que não as repetiremos mais. Tentamos, tentamos, tentamos, tentamos, até que cansamos. Baixamos o braço, caem as máscaras e estamos, de novo, nus.
Encararmo-nos sem maquiagem é um desafio difícil para quem está disposto a buscar cura para erros repetitivos. Precisamos enxergar - e depois assumir - que talvez possamos não ter razão acerca do que pensávamos e que podemos não ser tão agradáveis como imaginávamos. Descobrir que não somos Narcisos é, definitivamente, menos épico que as fantasias de herois que gostaríamos de envergar. É a confrontação necessária ao renascimento de quem está disposto a viver mais feliz, sem tantas frustrações e sem causar tantas decepções. E, claro, sem cansar o braço por ficar tanto tempo segurando sua máscara.
*in As Cinco Linguagens do Amor
Um comentário:
Sempre surpreendendo!!
Adorei!!
Beijos!! Rê
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